terça-feira, 13 de agosto de 2019

A Importância do Rei do Ponto de Vista Político e Religioso



Segundo o texto A Realeza Sagrada Nos Primeiros Séculos da Idade Média de Marc Bloch ” o milagre régio apresenta-se sobretudo como a expressão de certo conceito de poder político supremo”. (p. 68)
A importância de se ter um soberano era que ele também era identificado como sagrado e essa identificação era comum a uma parte da Europa, especificamente à França e Inglaterra, que será objeto de estudo na obra de Marc Bloch.
Do ponto de vista religioso, o texto registra que na França e Inglaterra os reis conseguiram se tornar médicos milagrosos aos olhos do povo, porque eram vistos como enviados e ungidos de Deus, e portanto, detinham poder para curar doentes. O texto cita que Pierre de Blois disse: “ sanctus enim et christus Domini est”. (o rei é santo, é o ungido do Senhor), e se referia ao seu soberano Henrique  II, seu monarca. Assim, conseguimos entender que o homem medieval via na figura régia alguém santificado por Deus, e como nesse contexto, não podemos dissociar o religioso do político, quem fosse contrário ao seu rei, também era alguém que era visto como um sacrilégio e por assim dizer, as suas decisões eram permeadas por religiosidade.

De que forma o passado bíblico e da Antiguidade Clássica se faziam presente no medievo e qual sua importância?

O texto mostra que os povos que se originaram de invasões mantinham ao redor da realeza uma atmosfera quase religiosa de veneração e foi na Bíblia que encontraram um modelo que concedeu uma união entre o cristianismo e realeza sagrada nas idades antigas. O texto cita o capítulo 14 de Gênesis que fala sobre Abrão recebendo pão e vinho das mãos de Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo. E o Antigo Testamento não era só uma fonte de simbolismos, mas apresentava um modelo de uma concreta instituição. O caráter sobrenatural era marcado pela unção. Quando o soberano ascendia ao trono, algumas partes do seu corpo eram ungidas com óleo previamente santificado.
Essa unção se concretizou primeiro na Espanha após o desaparecimento do arianismo e a Igreja e a dinastia viviam uma união íntima no século VII. Depois veio a França com Pepino, filho de Carlos Martelo, em  751, e foi o primeiro a receber a unção de sacerdotes.
Unção Régia:
Espanha(séc. VII)______Pepino, na França em 751 -------------Fim do séc. VIII, na Inglaterra. 
Ao mesmo tempo em 25 de dezembro de 800 na basílica de São Pedro, o Papa Leão III colocou uma coroa em Carlos Magno e o proclamou Imperador.Os reis haviam se tornado assim “ungidos do Senhor”.




Qual ou quais as relações convergentes e divergentes entre a figura do rei e a Igreja?

As relações convergentes são aquelas em que os soberanos monarcas haviam se tornado como “ungidos” de Deus, posto que recebiam semelhante unção a de um sacerdote.
Mas na consagração, o sacerdote era superior ao rei, já que um rei dependia da consagração eclesiástica, já o sacerdote não era ungido por reis, mas por integrantes da própria Igreja. Tanto que esse pensamento levou o rei Henrique I da Alemanha a ser o único do seu tempoa recusar a unção e a coroa que o arcebispo de Meinz lhe propôs e sem a benção de um pontífice. A  discussão acerca da unção de reis foi ficando cada vez mais acentuada entre os membros do clero. Conforme cita o texto:”... certos espíritos penetrantes depreenderam bastante bem os perigos com o que semelhante confusão entre uma dignidade essencialmente temporal e o sacerdócio podia ameaçar a Igreja e até o cristianismo.(p.79)”No século XI, todo um partido dedicou-se a comparar a dignidade régia ao sacerdócio”. Essa unção e a procura de pessoas que buiscavam no rei cura para suas enfermidades, mais comumente as escrófulas, uma espécie de inchaço nos gânglios, foi chegando a causar mal estar por parte de alguns sacerdotes, porque as pessoas, muitas vezes,  preferiam ir até o rei do que buscar a unção de um sacerdote, daí começou a  existir uma corrente que viu na unção da realeza, uma instituição que ameaçava a influência da Igreja sobre as pessoas.

Considerações gerais sobre a importância do rei no Ocidente Medieval:

Portanto, a figura régia detinha um conceito sacro para o homem medieval no Ocidente, mais especificamente aqui estudados por França e Inglaterra, assim o rei foi ganhando um conceito de santo como os pontífices. Tanto que ganharam uma unção semelhante a de um sacerdote. A população passava a vê-lo como capaz de realizar milagres. Alguns reis tocavam doentes e acreditava-se no poder de cura , e por conta disso, o rei foi ganhando papel fundamental para um país, pois era visto como sagrado e ungido de Deus até pela influência que havia na Bíblia em relação à unção de um rei. E então, ele ganhou um papel não só miraculoso, mas sagrado no Ocidente Medieval.



Referências Bibliográficas:

"A REALEZA SAGRADA NOS PRIMEIROS SÉCULOS DA IDADE MÉDIA" in: BLOCH, Marc. Os Reis Taumaturgos. São Paulo: Cia das Letras, 1998, p. 68-71


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