terça-feira, 13 de agosto de 2019

África com História



Introdução

O continente africano sempre é visto dentro de uma ótica mercantilista, mas iremos abordar diferentes pontos de vistas dentro das relações dos portugueses com os negros da África, em que é usado como apoio o filme “Nzinga, Rainha de Angola” produzido em 2013 pelo diretor Sérgio Graciano. Iremos dar ênfase à relação da escravidão e do catolicismo entre estes povos no decorrer do século XV até o XVII, onde é ambientado o filme.

Métodos Utilizados

Usamos a escola dos annales como método de pesquisa   , onde tentaremos sair de uma ótica simples mercantilista, para uma visão mais acadêmica,  compreendendo as transformações do espaço geográfico da África Negra com os europeus, sendo assim expandindo o conhecimento sobre estas interações de forma descritiva com uma abordagem qualitativa.

África com História

Nos estudos atuais sobre a historiografia africana temos visões diferentes sobre o mesmo tema, a escravidão, no artigo a seguir abordaremos algumas delas, como a nova leitura destina ao povo lusitano, cansado do estigma de vilões.
O livro de João Pedro Marques, Portugal e a escravatura dos africanos, escrito para a comunidade lusitana, é uma síntese em resposta a cultura historiográfica em que os portugueses reintroduziram e foram coniventes com a escravidão quando essa prática já era condenada por praticamente todo mundo civilizado, enfatizando que tanto Brasil quanto Portugal fizeram a opção pelo Status Quo.
O autor tenta diminuir o papel de Portugal relativa a escravidão no século XIX, justificando que a mesma ainda se encontrava em países como a Mauritânia, Mali e cita o exemplo brasileiro que postergou a escravidão. Concluímos então que na nova leitura feita por Marques o papel de Portugal na escravidão não foi de protagonista único como os ingleses e franceses escreveram.
Na visão Eder da Silveira e Silvio Marcos sobre o tema eles criticam as visões eurocêntricas e mercantilistas da historiografia. Eles discorrem sobre esta desconstrução de uma história ufanista elaborada pelos cronistas no decorrer do tempo, e passam a estudar também relatos de viajantes pela África que dão detalhes das relações culturais religiosas entre os europeus e os povos que lá viviam, ultrapassando á decorrente visão míope de que somente relações comerciais moviam á simbiose entre estas duas culturas. 
O filme “Njinga Rainha de Angola” mostra bem que a relação entre em especial os congoleses e portugueses não era unilateral, no filme é mostrado rainha Nzinga, nascida em 1582, treinada desde sua infância para o combate e o uso de armas, com a morte de seu pai sucumbiu ao irmão na sucessão do trono com inconformismo pois julgava seu por direito, anos depois foi chamada por ele para negociar a paz com os portugueses que já estavam estabelecidos na cidade de São Paulo de Luanda, onde haviam construído igrejas e fortificações. A diplomata negra impressionou o governador geral com sua inteligência e argumentos concretos e objetivos, a princípio obteve sucesso em parte de suas exigências com a condição que ela e o rei, seu irmão, se convertesse ao cristianismo, aceitando o batismo católico.

Rainha Nzinga

A questão religiosa do catolicismo é abordado fortemente no texto “Catolicismo e Poder O caso Congolês” de autoria de Marina de Melo Souza, nela ela aborda a relação religiosa na região do Congo com os portugueses.
O Reino de Congo era mantido pela unidade da nobreza em torno do rei o qualcontrolava o território, que contava com uma estrutura política teoricamente coesa,conforme a passagem abaixo:
[...]. O centro do poder localizava-se na capital, Mbanza Congo,
de onde o rei administrava o país juntamente com um grupo de
nobres que formavam o conselho real, composto provavelmente
por 12 membros, dividido em grupos com diferentes atribuições:
secretários reais, coletores de impostos, oficiais militares, juízes e
empregados pessoais, que influenciavam a administração. A
centralização, que ao mesmo tempo que dava estabilidade ao
sistema, fazia que fosse constantemente abalado pelas intensas e
frequentes disputas pelo poder central. (SOUZA, 2006, p.45-46).

Com tamanha grandeza notamos a cultura política congolesa que apesar da centralização por parte do soberano na capital do Reino de Congo, conhecida por Mbanza Congo, havia autonomia administrativa aos aliados que mantinham relações de longa data com a Mbanza conforme atesta o excerto abaixo:
[...]. Algumas dessas províncias, como de Soyo, Mbata,
Wandu e Nkusu eram administradas por membros de
linhagens enraizadas na região que detinham cargos de
chefia há muitas gerações. Outras províncias eram
administradas por chefes escolhidos pelo rei dentre a nobreza que
o cercava na capital. (SOUZA, 2006, p.45, grifo nosso).

Nem sempre a Cultura Política era feita só de rosas em que a nobreza ficava em órbita do soberano por meio de casamentos entre as famílias e das linhagens. Havia disputas de poder e resistência de poder régias as regiões aldeãs conhecidas por Lubatas nas quais os nkuluntus, chefes locais, recusavam a soberania de Mbabza Congo.
De certa forma essas fissuras por poder político e econômico entre as Mbanzas e Lubatas e, a luta pelo poder entre as elites destes grupos enfraquecia o funcionamento das funções administrativas do poder central do reino. Nessas querelas políticas entra em cena um novo personagem que daria uma nova tonalidade nas relações intrapolíticas e exteriores, na qual se trata do Reino de Portugal que exercerá uma enorme influência na vida pública e privada congolesa e dará novo tempero nas relações entre os postulantes ao trono na nobreza.
Durante o período de intercâmbio cultural entre a potência Ibérica e o poderoso reino da Costa Ocidental Africana, gigantes do Atlântico, houve a assimilação espontânea e ao mesmo tempo pragmática a Fé Católica, a escrita e fala portuguesa e dos nomes das renomadas personalidades do mundo Lusitano, quais nomes de Reis e gente de notória importância, que os nobres locais que cercavam o Mani, denominação designada ao soberano, por parte da elite de Congo. No filme presenciamos esse fato quando a princesa Nzinga quando batizada se torna Ana de Sousa e suas irmãs adotam nomes portugueses. Seu irmão que era soberano, aceita a ideia de batismo, porém sua concepção de superioridade em relação aos súditos o faz recusar o sacramento sob as mãos de um escravo de baixo clero.
O Batismo como citado antes era praticado de maneira pragmática em boa parte dos soberanos e da nobreza como uma maneira imanente de ingressar na nova ordem política feita pelos portugueses para manter e sustentar a estabilidade e os privilégios e da maneira transcendental para manter contato com os espíritos dos mortos e com as dádivas das divindades, por mais que no filme se retrata o caráter imanente por parte da Nzinga. Essas alianças visavam a manutenção da própria manutenção do reino na qual o aparato bélico dos portugueses se fazia necessário para derrotar os grupos locais rivais e insurgentes a autoridade régia de Mbanza. Com estes fatos analisamos a  profunda transformação em que o catolicismo transformou as relações culturais em que especificamente viviam os povos do Congo, indo além de uma visão eurocêntrica da História da Africa.




Conclusão

Com a chegada dos europeus, principalmente Portugal, o continente africano nunca mais foi o mesmo, os portugueses se “ africanizaram”, comercializavam os produtos da África através de todo o oceano Atlântico gerando um intercâmbio de mercadorias, onde eles intermediavam essas relações comerciais, além de trazerem produtos da Europa e Ásia. O contato dos portugueses com os africanos modificou a forma de se relacionar dos povos que lá viviam, seja na cultura, religião e economia, originando uma nova ordem de fatos.

Fontes e Referências:

MARQUES, João Pedro. Portugal e a Escravatura dos Africanos, Lisboa, Imprensa de Ciência Sociais, 2004, 160 páginas.

Njinga,Rainha da Angola. Produção de Coréon Dú, Renato Freitas; Sérgio
Neto; Joana Jorge.Realização de Sérgio Graciano. Angola: Semba Comunicação, NOS Lusomundo Audiovisuais, 2013. 1DIGITAL Video Disc (109min.): DVD,cor. Português. 

SILVEIRA, Eder; CORREA, Silvio M. de Souza. Viajantes brancos na África negra do século XV. In: MACEDO, JR; org. Desvendando a história da África [ online]. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008. Diversidades séries, pp.85-96.

SOUZA, Marina de Mello e. Reis negros no Brasil escravista: história da festa
de coroação derei congo. 1°reimpr. Belo Horizonte. Ed. UFMG. 2006.387p.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Professor Fabio Cardoso: O golpe da Proclamação da República e o declínio d...

Professor Fabio Cardoso: O golpe da Proclamação da República e o declínio d... : O Partido Republicano não tinha poder eleitoral, visto que ...