terça-feira, 30 de julho de 2019

A Realeza centrada em Cristo

Após a queda de Roma surgiram os Novos Reinos Bárbaros ao longo da Europa que tentaram restaurar certas características romanas (títulos, estruturas burocráticas), porem foi no Reino Franco, por exemplo, que os reis e depois imperadores passariam a ter status sacro, já que seriam por meio deles que se manifestaria o poder de Deus, ou seja, uma personae mixtae (ser espiritual e secular). 
Portanto o Rei passaria a ter uma eminente importância já que ele tinha que fazer jus ao poder que lhe foi outorgado por Deus. Assim ele garantia coesão à cristandade ocidental e, a aristocracia e aos seus súditos em torno de sua figura sacra para a propagação da vontade de Cristo, ou seja, dos escritos de seus evangelhos. Sua autoridade real seria legitimada por meio da unção e da consagração a partir do momento de coroação onde haveria união entre o rei terrestre e o Rei Celestial em que o espirito de Deus incorpora no Rei sendo seu poder a partir daquele momento a manifestação da vontade divina.
Esses ritos de coroação remontavam o período bíblico quando os reis dos judeus eram ungidos pelos religiosos para que sua autoridade fosse legitimada por Deus, onde o poder real guiaria o povo escolhido para edificar um reino que realizasse a vontade divina. Também retorna ao período da Antiguidade Clássica em que os gregos e romanos consagravam as figuras eminentes de sua época. Essa divinização ocorria por meio de apoteose e consecratio romana.
Havia consonância nestes ritos em que eles assumiam uma deificação-que excedia os demais homens- sendo, portanto manifestação divina na terra.
As relações entre a realeza e a Igreja foram marcadas por períodos de oscilações em que certos momentos a autoridade real foi respeitada pelo clero consolidando uma harmonia entre os poderes seculares e espirituais, principalmente nas coroações e nas pinturas retratando a aliança divina entre o rei e o Deus ou Jesus Cristo.
Mas essas relações foram arranhadas em alguns períodos como na Questão de Investidura onde o rei tentou transgredir o poder clerical interferindo nos assuntos internos referentes à Igreja, provocando conflitos e pensamentos de aversão ao Papa, onde o clérigo Anônimo Normando afirma que o rei por ser uma personae mixtae tinha um poder superior na face da terra, maior do que o do próprio Papa.
Podemos concluir que a figura real e imperial do Ocidente Medieval teve uma grande importância já que se alcançou a estabilidade politica e social que garantiu o desenvolvimento da civilização da Europa Ocidental sob a moral prescrita pela Cristandade, onde o sacro e o secular legitimaram a realeza centrada em Cristo e a unidade do mundo cristão por séculos.

Referências Bibliográficas:


KANTOROWICZ, Ernest H. Os Dois Corpos do Rei: um estudo sobre teologia medieval. São Paulo. Cia. das letras: 1998. p. 48 - 91.

BLOCH, Marc. Os Reis Taumaturgos. São Paulo: Cia das letras, 1998, p. 68 - 87




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Professor Fabio Cardoso: O golpe da Proclamação da República e o declínio d...

Professor Fabio Cardoso: O golpe da Proclamação da República e o declínio d... : O Partido Republicano não tinha poder eleitoral, visto que ...