terça-feira, 30 de julho de 2019

Pacto Germânico-Soviético de Não Agressão

O material que analisaremos será uma fonte primária visual de acordo com o Anexo A, ou seja, uma fotografia feita em um dos maiores acontecimentos ocorrida durante o período Entreguerras (1918-1939) e na História Diplomática que foi o tratado de não agressão assinado no dia em 23 de Agosto em 1939, entre Viatcheslav Mikhailovitch Molotov e Ulrich Friedrich Wilhelm Joachim Von Ribbentrop, representantes dos assuntos e relações estrangeiras dos respectivos governos soviético e alemão.
A imagem foi produzida durante as assinaturas do tratado na qual o representante da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) assina na linha firmando o compromisso de Moscou, capital soviética, de não iniciar as iniciativas bélicas e, portanto de cumprir fielmente os termos do acordo.
Quando observamos a imagem à pergunta que vem cabeça é: qual a razão de dois chefes de governos distintos, ideologicamente opostos assinarem um pacto de não agressão sendo que nos seus governos essas ideologias distintas eram proibidas e sendo comum na União Soviética denominar de “Fascista” ou até “Nazistas” vítimas de expurgos e na própria Alemanha Nacional Socialista haver perseguição aos Comunistas?
Poderíamos fazer como George Duby e tentarmos em nosso imaginário entrar em comunicação com esses guerreiros, no caso daquele Agosto, chefes supremos das defesas destas nações “esperando aproximar [...], pelo menos de alguns deles, para poder distinguir um pouco os laços que os uniam uns aos outros e as relações que acreditavam manter com o mundo” (DUBY, 1992, p.19), porém não temos mínimas possiblidades de votarmos praticamente oitenta anos e perguntar para o líder soviético, Josef Stalin e ao seu representante e também ao Sr. Von Ribbentrop as razões de assinarem um acordo que deixou perplexo tanto os apaixonados “Antifascistas” de mundo todo que lutaram nas Brigadas Vermelhas contra os ditos Tradicionalistas, Nacionalistas e Anticomunistas na Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e os próprios Comunistas que combateram os Nazistas nas ruas alemãs antes do poder absoluto de Adolf Hitler, tanto os “Conservadores” que julgavam o Nacional Socialismo como mal menor na luta contra as ações da Komintern, a Internacional Comunista, no solo europeu.
O que devemos fazer neste caso é consultarmos a fonte e retirar dela o essencial dela por se tratar de um material “bruto” em analogia aos materiais que nos utilizamos até o seu máximo para construir uma análise histórica correta na mesma precisão que se edifica um prédio ou uma casa como relata Duby (DUBY, 1992) nas suas experiências epistemológicas.
Para analisar a fonte devemos levar em consideração o que Duby recebera de Lucien Febvre ([20-] apud DUBY, 1992) que em cada época tem sua visão de mundo, que as percepções no espaço e construções de conceitos alteram com tempo e que ao estudioso é recomendado que não se deixasse levar a respeito dos atuais arquétipos de mundo num iminente perigo de não compreender nada referente ao passado. 
Na nossa fonte primária visual, conforme o Anexo A, ao montar esse quebra-cabeça da questão levantada acima, como recomendara George Duby, notamos os nomes dos principais personagens e seu lugar durante a assinatura do acordo na qual Molotov estava assinando o tratado tendo atrás de ti o representante de Berlin, Von Ribbentrop e nada menos importante que Josef Stalin, governante da União Soviético, além de oficiais das ambas as armas dos dois países em que as expressões evidenciavam alívio mesclado com tensão por parte do oficial soviético juntamente com satisfação por parte do chefe supremo da URSS e no rosto dos alemães um olhar de frieza mesclado com tensão por parte do “chanceler” nazista e de outro um olhar de desdém.
De um lado foi uma reação de alívio por parte de Moscou já que afastava provisoriamente um conflito com a Alemanha, visto com temor em virtude do “sucateamento” do Exército Vermelho e da superioridade bélica dos alemães, além de consolidar a transformação econômica dos coletivizações de terras e do crescimento industrial por meio dos famosos Planos Quinquienais.
Graças a esses planos a URSS se tornou pouco mais de uma década a potência econômica ao lado dos EUA e países ocidentais, porém com um custo social grave com muitas mortes devido à fome provocada pela modificação radical da estrutura agrária e das repressões em razão da resistência por parte dos camponeses humildes até os mais abastados, no caso os Kulaks, em aderir os Kolkozes entregando suas terras e, cedendo sua produção e seus instrumentos de trabalho.
A forma conduzida na modernização soviética gerou resistências no partido Comunista e houve como reação expurgos contra a velha guarda bolchevique com acusações de serem espiões e sabotadores a serviço dos “Capitalistas”, “Trotskistas”, “Fascistas”, “Nazistas” ou todas essas atribuições.
Isso se estendeu ao Exército Vermelho em razão de supostas denúncias do chefe do Estado Maior, Mikhail Tukhachevsky, de estar em complô com a Alemanha para derrubar o governo e instalar um regime de inspiração Nazifascista.
Com isso muitos oficiais foram condenados à morte por fazerem, segundo os inquéritos, atos conspiratórios de inspiração “bonapartista” junto às taxações acima o que levou o exército a carência de bons estrategistas e comandantes, conforme visto na Guerra de Inverno (1939-1940) com a Finlândia cujo conflito foi vencido com muitas dificuldades.
A satisfação era ter a possibilidade de adquirir novos territórios algo concretizado na conquista de terras finlandesas e no início da Segunda Guerra Mundial de territórios de países bálticos, além do Leste Polonês sem ter a intromissão de Hitler.
Para os alemães o acordo foi espetacular já que Alemanha Nazista Bélica sob um governo Totalitário (a partir de 1933 com a ascensão de Hitler fechou partidos, associações e sindicatos, silenciando os opositores até os matando seus antigos aliados e comandantes das antigas SA, as famosas tropas de assalto) alcançou grande crescimento na sua produção industrial, principalmente a Indústria Bélica, junto com medidas econômicas de gerações de empregos com obras de infraestrutura e aliança com as elites econômicas.
O apoio dos oficiais foi fundamental para a consolidação do poder que sendo assim poderia se ater para os demais territórios europeus objetivando dominá-los como a Polônia.  
Para que essas duas grandes potências pudessem ter uma grande produtividade o que as levou protagonizar esse importante acordo diplomático foi necessário, acrescentado às perseguições e eliminações da oposição, um imenso sentimento de pertencimento comum a uma mesma pátria e uma mesma cultura sendo irrelevantes as variações regionais alemãs e soviéticas que segundo Tânia Regina de Luca ao corroborar com Eric J. Hobsbawm e com Terence Ranger (1984,1988 apud LUCA, 2012) de que o processo de identidade nacional foi feito para reverenciar um passado comum, uma história nacional aprendida e imposta nas escolas para criar e forjar tradições únicas com elos poderosos entre os compatriotas nos diversos contextos sociais.
Com esses acontecimentos envolvendo os signatários vemos que há situações em que o pragmatismo fala mais alto em uma determinada temporalidade ao depararmos com a fonte e possamos assim parafraseando Duby (DUBY, 1993) que ao caminharmos nos campos e bosques dos antecedentes históricos encontramos algo concreto, digno de um bom ponto de vista para nos ancorar no real, ou seja, nas motivações de assinarem um acordo de não agressão e divisão da Polônia em duas.
A imagem tem uma importância histórica por registrar o ato histórico captando as reações e expressões dos que fazem a história levando a questionar a razão de o fenômeno fotografado nos fazer entender que por bastidores daquela foto há uma geopolítica voltada para manter e aperfeiçoar o desenvolvimento de dois sistemas envolvendo toda uma cadeia produtiva, dominação política e fortalecimento ideológico na vida pública e privada dos respectivos cidadãos e renegados em ambas as nações.
Sendo assim Tânia Regina ao citar Lucien Febvre (1998 apud LUCA, 2012; TÉTART, 2000) de que a história se faz com documentos escritos também se faz com inexistência de fontes escritas na qual o historiador fabrica o seu mel e faz a sua fonte, mesmo desprovida de palavras possa orientar a busca por repostas e a fonte visual passa ser um importante objeto de estudo conforme explicitamos acima.
Assim não nos limitamos a analisar somente as fontes escritas como defendera Fustel de Coulanges, mas continuar fazendo o que havíamos feito, segundo Tânia Regina, que é analisar a história como um todo partindo de um micro espaço histórica, no caso da fotografia batida na assinatura do Pacto Germânico-Soviético, para partimos para uma história total analisando todos os elementos presente nas estruturas destes Estados para então entendermos melhor a razão do acontecimento presente na fonte analisada. 







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