segunda-feira, 29 de julho de 2019

Colômbia: guerrilha, narcotráfico e paz.

 

Com a crise cafeeira no início do século XX, os liberais acusaram os conservadores de se manter no poder na Colômbia por meio de eleições fraudulentas e de centralizar o poder em demasia.
Em 1930, após cinco décadas de domínio conservador, os liberais vencem as eleições, 3 anos mais tarde um liberal radical chamado Jorge Eliécer Gaitán funda a União Nacional da Esquerda Revolucionária ficando no poder até 1946 com a situação política radicalizada, após o retorno dos conservadores ao poder ele seria novamente o candidato liberal à presidência.
No dia 8 de abril de 1948, o 9º Congresso Pan Americano, com presença do americano George Marshall alegando de que o objetivo de sua participação era estabelecer alianças, quando na realidade ele estava ali para consolidar a influência americana na região da América do Sul. A conferência foi o pano de fundo da morte de Gaitán, assassinado justamente no dia em que encontraria Fidel Castro, com sua morte explodiu novamente a rivalidade entre liberais e conservadores.


Jorge Eliécer Gaitán


“La Violência” teve início em Bogotá, com o chamado Bogotazo, uma revolta política que se iniciou na capital colombiana e se espalhou pelas províncias do interior, houve saques a comércios estrangeiros e prédios públicos. Os movimentos radicais foram coordenados pelo reitor da Universidade Nacional, Geraldo Molina. Essa nova ordem revolucionária respaldada por milícias teve o apoio da polícia ao lado do povo gaitanista, houve apropriação de terras e da usina de petróleo de Barrancabermeja. A revolta terminou quando as juntas, necessitadas de mais apoio e coesão, acabaram sendo derrotadas.
Os liberais, temerosos quanto a uma vingança conservadora, mobilizaram os camponeses em milícias cometendo assassinatos, a meta das guerrilhas liberais comunistas era derrubar o governo conservador. Na frente da guerrilha havia membros do PSD (Partido Social Democrata), dentre eles Tirofijo, futuro líder das Farc.
A contrarrevolução conservadora foi cruel e sanguinária, com destaque para os “Chulavistas”, que enxergavam a situação como uma Guerra Santa contra comunistas e maçons, houve a substituição da polícia liberal pela cruel polícia conservadora, em consequência disso houve a repressão indiscriminada com os “Trabajitos” realizados por “Los Pássaros” ,um grupo de assassinos católicos fanáticos e pistoleiros comerciantes locais, liderados por León María Lozano, popularmente conhecido como “El Condor”. Diversas atrocidades foram cometidas como o corte de línguas e olhos, além de matar gestantes para que não nascessem membros opositores.

León María Lozano


Laureano Gómez foi eleito presidente em 1950, mas renunciou devido a problemas de saúde, quando tentou voltar ao cargo em 1953 foi derrotado por um golpe de Estado, onde o General Rojas Pinilla tomou o poder.
Gustavo Rojas Pinilla acabou com seus opositores e simulou ações populistas para o consumo urbano, construiu bases clientelistas, moldando inclusive os sindicatos nessa base. Com seu discurso anti-oligárquico e nacionalista associado ao presidente argentino Perón, Pinilla conseguiu enfurecer a elite oligárquica.

Gustavo Rojas Pinilla


Contrastando essas ações, Pinilla participou de massacres como comandante conservador, quando presidente, acumulou fortuna de forma nebulosa, além de libertar León María Lozano. Numa tentativa de erradicar definitivamente os redutos comunistas que ainda restavam, desencadeou, em 1955, a “Guerra de Villarica”, utilizando os veteranos da Guerra da Coréia ordenou bombardeios com aviões doados pelos Estados Unidos. Com isso muitos camponeses foram desalojados, enquanto outros se refugiaram nas montanhas, criando colônias agrícolas, líderes sindicais e camponeses se converteram em líderes militares, estabelecendo um novo padrão de luta que se desenvolveria ainda mais nas próximas décadas. Com o tempo, além dos partidos políticos, industriais e cafeicultores e a Igreja desejavam a queda de Pinilla.
Na Espanha, Gómez assinou o Pacto de Sitges juntamente com Alberto Lleras Camargo, comprometendo formalmente conservadores e liberais em uma Frente Nacional em que o poder seria compartilhado pelos 2 partidos se alternando no poder, concordando com a repressão as guerrilhas em todos os níveis governamentais. Tiveram apoio da igreja, que abandonou a filiação única aos conservadores, unificando assim as duas formações, também foram apoiados pelas elites políticas e burguesia.
Devido à forte pressão Pinilla renunciou e um plebiscito incorporou os acordos da Frente Nacional à constituição, Laureano Gómez retorna de forma triunfal para assumir o senado e processar o General Pinilla. A Frente Nacional restaurou o sistema bipartidário, sendo unificados pelo anti–comunismo, em um contexto de Guerra Fria, em contra partida embora tivessem o poder central, na maior parte do país ainda prevalecia o poder local.

Pacto de Sitges


Durante o período movimentos populares foram criminalizados e os conservadores começam a patrocinar assassinatos através do “Banditismo”.
Surgem forças de oposição à democracia oligárquica e excludente da Frente Nacional, uma delas é o MRL(Partido Revolucionário Liberal), comandado por Afonso Lopez Pumarejo, atraíram intelectuais marxistas, escritores radicais, trabalhadores do setor público, estudantes e camponeses.
Com o impacto da Revolução Cubana se torna urgente a eliminação de guerrilhas, coo parte da Guerra Fria. O “Plan Plazo” concebido por civis brancos contra os comunistas isolaria as guerrilhas da sua principal base de apoio por meio de melhores infraestruturas, já a “Operacão Marquetalia” teve o objetivo de recuperar uma aldeia de mesmo nome, apoiados pelos americanos, houve bombardeios devastando tudo e obrigando os combatentes a formar uma coluna guerrilheira, deixando se ser uma milícia sedentária para ser uma milícia móvel.
 As Farc é formada em 1966 por Tirofijo e nos anos 1960-70 se converteram no braço armado de um movimento camponês colonizador da fronteira agrícola de Meta e Caquetá obtendo cenário para a construção do verdadeiro poder local, uma estrutura regional de guerra social e sobrevivência coletiva, garantindo a continuidade de lutas agrárias do passado, tiveram bastante sucesso em seu início. Outras forças guerrilheiras que tiveram destaque nesse período são a ELN, uma força guerrilheira formada por universitários, com destaque para os irmãos Fabio e Manuel Vasquez, ligados a Cuba, eram constituídos de pequenas guerrilhas móveis. Em 1967 é formado o EPL de via maioista, pregando o radicalismo agrário e uma guerra popular prolongada.

Tirofijo 


A Frente Nacional se deteriorou nos anos 1960, principalmente, devido a guerrilhas e uma alta taxa de desemprego. Na eleição de 1970 Rojas Pinilla ganhou a eleição com 39% dos votos, a Frente Nacional alegou fraude e impôs Misael Pastrana, que teve seu mandato marcado por obras públicas e uma contrarreforma no campo, combatendo com violência os camponeses e líderes de esquerda, era apoiado por latifundiários avessos a reforma agrária. O último mandato da Frente Nacional foi com Lopez Michelsen (1974-78), governando para uma elite cafeeira e industrial que concentrava 5% da população e mais da metade da renda nacional, enquanto a camada mais pobre da população formada por afro-colombianos e indígenas sofriam com pouco investimento. Diante das medidas neoliberais de Michelsen, empresários das drogas começaram a lavar dinheiro no Banco de La Republica, tirando proveito da política monetária de baixas taxas de juros que estimulavam empresas de seguros, hipotecárias e a especulação de imóveis urbanos. É nesse contexto que surge outro grupo revolucionário, o M-19, roubando a espada de Simón Bolivar de um museu no centro de Bogotá; esse grupo tinha ambições eleitorais de tradição gaitanista.
Em 1978 foi eleito o liberal Julio Turbay Ayala, que escolhe o General Camacho para dirigir o assalto às cidades por parte do exército, da polícia, dos serviços de inteligência e organizações paramilitares. Em consequência disso começam a aparecer detidos, torturados e milhares de desaparecidos. Um dos focos da repressão de Camacho foi o M-19, o clima ficou propenso para o crescimento de mais guerrilhas.

Julio Turbay Ayala


Um processo de reestruturação das oligarquias é iniciado e algumas facções importantes transferiram seus investimentos da produção para a especulação e capitalização de renda. O mercado do negócio da maconha floresceu, os bancos e negócios da área da construção aumentou e surgiu uma nova camada de capitalistas ricos devido aos narcóticos e a economia de guerra, encolhendo a classe conservadora. Num curto espaço de tempo a cocaína substituiu a maconha como mercadoria mais rentável para a exportação e os narcotraficantes entraram para a política. Logo o Partido Liberal se estimulou com o mercado das drogas e o Partido Conservador desapareceu completamente, assim como a indústria do café.
No início dos anos 1980, a estratégia das FARC se espalhar por todo território nacional, alimentando – se do mercado de cocaína eles se converteram num empreendimento militar dedicado a expansão territorial, controle da população e a mobilização dos civis dentro de sua zona de operação. Em resposta são criados esquadrões da morte, forças paramilitares locais, havendo violência no âmbito político e criminal.
Os colombianos detinham o monopólio da cocaína, seu transporte e processamento tinham seu eixo central em Medellin. O chefe era Pablo Escobar, que, diante do crescente poder de sua organização, em 1982, se integrou a política nacional através do partido Liberal, se elegendo deputado suplente, sob a tutela do chefe político Alberto Santofimio. Essa aliança ocorreu após a expulsão de Escobar do Novo Liberalismo, fundado por Luís Carlos Gallán e Rodrigo Lara Bonilla, políticos da nova geração que se opunham aos narcotraficantes e disputavam na política com Santofimio. Foi esse contexto que o documentário “Pecados de Mi Padre” de 2009, tentou reproduzir. Com a anuência de seu filho Juan Pablo, que posteriormente alterou seu nome para Sebastián Marroquín, juntamente com a viúva de Pablo, Maria Isabel Santos, através das lembranças de fotos e vídeos vão lembrando essa realidade milionária que Pablo Escobar teve como chefe do cartel de Medellín. Ele já no começo dos anos 80 era um dos homens mais ricos do mundo, ele não sabia nem no que gastar mais, ele também lavou dinheiro construindo casas para pessoas que viviam num aterro sanitário, além de centenas de estádios de futebol que entregava. Então quando seus antigos companheiros de partido político começaram a ser uma ameaça para ele, ele exterminou os dois: Rodrigo Lara Bonilla foi o primeiro a ser assassinado numa emboscada – ele foi o primeiro a denunciá-lo perante o parlamento colombiano – depois disso, Pablo tinha ainda muito dinheiro, mas sua imagem já estava manchada. Depois foi a vez de o candidato a presidente ser assassinado enquanto estava sobre um palanque, Luís Carlos Gallán. Seu filho, com apenas 17 anos, decidiu se pronunciar sobre a morte do pai e indicou César Gaviria para ser o próximo candidato, Pablo tenta armar uma emboscada para matá-lo, mas o avião em que colocara a bomba, não estava com ele, e em julho de 1990, foi eleito presidente da Colombia César Gaviria. Nesse meio tempo havia constantes embates entre os cartéis de Medellín e o de Cali, o que transformou a Colômbia num local que cheirava a sangue. 

Pablo Escobar

Olhando para trás e em tudo o que lhe acontecera até ali, Sebastian decidiu colocar um basta nisso tudo e escreveu uma carta aos filhos das vítimas de seu pai para lhes pedir perdão e para que ele tentasse fazer com que dali em diante, não houvesse mais vinganças, nem mortes. Sebastián se encontrou com os filhos de Luís Carlos Gallán e Rodrigo Lara Bonilla, na Argentina, país que atualmente reside com sua mãe e esposa. Ele enfatiza que abriu mão de toda a fortuna que seu pai tinha por sua vida. Deixou tudo para trás e provou que no mundo do narcotráfico tudo é efêmero e a Colômbia apesar de ter morrido Escobar em dezembro de 1993, precisou de vários anos para tentar se acertar com as FARC, num longo processo em que os rebeldes entregaram seus armamentos e se tornaram partido político, antes Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, hoje Força Alternativa Revolucionária do Comum. Atualmente o Exército de Libertação Nacional, outra guerrilha armada colombiana, também tem dado tréguas ao país, a Colômbia tentou por anos esse acordo de paz, parece que agora estão chegando a um denominador comum e todos só tendem a ganhar.

Referencias bibliográficas:

HILTON, Forrest. A Revolução colombiana. Unesp. 2010

ENTEL, Nicolas. Pecados do meu pai. 2010

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