terça-feira, 30 de julho de 2019

Origem do pensamento grego.


Esta resenha   se propõe a analisar o texto “As origens do pensamento grego” de Jean Pierre Vernant e o documentário de Joseph Campbell intitulado “O poder do mito – parte 2 - A mensagem do mito”.
A primeira questão a analisar é que dentro do vídeo assistido há uma mensagem muito mais profundamente humana do que se pode pensar num primeiro momento no quesito mito. O ser humano, segundo Campbell tem a necessidade de ter contato com a espiritualidade de alguma maneira. Ele mostra que ler mitos de outra religião ajuda a entender a sua com mais clareza, não em termos de fatos, mas de mensagem. Ele também afirma que o mito ajuda a pessoa criar essa conexão com a experiência de estar vivo.
Os símbolos contidos no mito ajudam quem os analisa a fazer a interligação entre a simbologia e a mensagem do símbolo em si. Como exemplo, o casamento é uma díade que se reúne, porque duas pessoas se unem e se tornam uma só. No plano espiritual, isso se tornaria um reconhecimento de Deus encarnado, ou seja, a mitologia do matrimônio, que se reconhecer na pessoa certa e desposá-la e somente com ela viver.
Os mitos fornecem às pessoas modelos de moralidade a seguir, oferecem um modus vivendi porque eles servem de parâmetro para uma sociedade, por isso também, fornecem certas alegorias que nunca perdem sentido, se unirmos o mito e fizermos uma alusão a situações do presente. Por exemplo, homens armados de hoje podem ser remetidos ao mito da Dona Morte com sua foice. As religiões precisam se adaptar aos tempos cotidianos para não perderem seu valor diante da realidade de uma sociedade específica. Sim, as mitologias se formam e se desenvolvem dentro de uma determinada sociedade. Católicos e protestantes se afirmam cristãos, mas o mito, totalmente distinto dentro de suas teologias e dentro de cada uma dessas religiões, é que faz com que ambos vivam suas realidades à parte da existência um do outro, no caso da Irlanda, esse é inclusive um conflito sério que divide o país e cria intermináveis violências.
Quando analisamos o texto de Jean Pierre Vernant, percebemos que ele analisa os antigos gregos desde a formação de seu pensamento até mesmo para que nós também possamos entender melhor a formação de nossa própria e atual forma de pensar. Vernant analisa detalhadamente os pormenores da formação do grego antigo desde sua posição geográfica e seu relacionamento de certa forma abalado com o Oriente. Ele explica que com a leitura de Homero é possível identificar que surge uma nova sociedade, um novo mundo através da Ilíada, porque a partir dessa obra já se consegue visualizar o grego antigo tal como ele nos é conhecido.
Vernant afirma que com a queda do sistema micênico traz consequências para o campo da política e no âmbito social. O mundo espiritual grego acaba refletindo na sociedade: acontece o desaparecimento da figura do rei na Idade Média Grega, as decisões passam a ser tomadas em conjunto, começa a surgir a instituição de cidades e  acontece também o nascimento de um pensamento racional. 
O autor ainda fornece aspectos psicológicos de toda uma estrutura de pensamento do grego arcaico e do grego clássico. Esse desenvolvimento de demonstração de como pensava antes o grego e como passou a pensar, a mudança de sua estrutura de vida em sociedade, fornece dados riquíssimos para a historiografia, porque na vida do grego inserido na polis, por exemplo, o pensamento visa ao coletivo e a vida política, exigindo mais racionalidade para resolver as questões cívicas, daí as questões espirituais passam a ficar um pouco de lado porque a preocupação é a resolução de conflitos, conforme Vernant cita: 
“Todas as questões de interesse geral que o Soberano tinha por função regularizar e que definem o campo da arché são agora submetidas à arte oratória e deverão resolver-se na conclusão de um debate: é preciso, pois, que possam ser formuladas em discursos, amoldadas às demonstrações antitéticas e às argumentações opostas.” Pág. 54.
A vida pública e a palavra transformam o homem grego, que forma uma certa articulação entre o pensamento e a vida política. Nesse momento, a espiritualidade grega fica atrelada à sua vida pública e a dialética, por ter a necessidade de cuidar de sua vida pública e resolver os conflitos existentes na polis, passa a surgir o pensamento racional grego.
Portanto, o mundo grego passou por várias transformações de pensamento, vindo a culminar na racionalidade. É possível entender a intertextualidade do documentário com o  livro quando se analisa que o mito se refere a experiência de viver, e os gregos desde os textos homéricos vão passando por profundas transformações de experiência de vida, a ponto de culminar numa mudança drástica no agir e pensar do mundo grego, assim que ele constitui sua vida em sociedade e o mito se não acompanhar o pensamento da sua época, serve apenas como referência do pensamento passado de uma sociedade. Entendendo isso, podemos concluir que o pensamento grego que influencia a vida cívica de todos até hoje, passou por importantes transformações desde Homero quando vemos descrito o pensamento mítico grego até a sua vida na polis que mudou completamente a sua forma de vida para um agir racional que até hoje nos influencia como seres que vivem em conjunto.


Referências bibliográficas:


O poder do mito. Parte 2. A mensagem do mito. Disponível em: 
< https://www.youtube.com/watch?v=DnLDme-MkXU> . Acesso em 17 de outubro de 2016.

Vernant, Jean Pierre. As origens do pensamento grego.1.ed. Rio de Janeiro: Difel, 2002.

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