terça-feira, 30 de julho de 2019

O sentido do passado.


Para o ser humano, o passado sempre esteve presente mesmo antes de sua conscientização acerca dele, pela convivência de um indivíduo com pessoas mais velhas dentro de uma mesma comunidade. Para Eric Hobsbawn, o passado é de suma importância, pois representa todo o sistema de valores construído dentro de uma sociedade ainda que, de forma inconsciente.
Segundo ele, o passado, assim que um ser humano se torna integrante de uma sociedade, começa a localizar-se em relação a ele, ainda que para rejeitá-lo. Ele fixa os valores que serão estabelecidos, ou mesmo valores que serão contestados.
Existe a crença de que o presente deva reproduzir o passado, mas isso acarreta uma mudança lenta, ainda que positiva, dentro da História.  Já as mudanças demográficas e tecnológicas são graduais, sendo mais facilmente absorvidas, por acrescentar, de maneira tácita no passado social as mudanças no sistema de crenças e valores na história mitologizada, por distenderem aos poucos a estrutura normativa já existente.Se fosse de outra maneira, as sociedades de que temos conhecimento de maneira documentada, nunca teriam mudanças em seus sistemas normativos tradicionais. Mesmo assim, para Hobsbawn, a crença de que a “sociedade tradicional” nunca mude é um mito da ciência social comum. O que o autor acredita é que até que seja acrescido um ponto de mudança, ela permaneceria “tradicional”, pois o passado sempre modelaria o presente. Por conta disso, podemos entender porque alguns brinquedos do passado continuam no presente, como por exemplo o biloquê ou biboquê. Há registros desse brinquedo em pinturas europeias, assim como no Japão e América Latina.
De acordo com o autor, rejeitar o passado é um problema quando a mudança é considerada inevitável ou socialmente necessária ou desejável, porque daí representa o progresso. A inovação é algo geralmente aceito de maneira positiva pela sociedade desde que estejam familiarizadas por mudanças tecnológicas, mas algumas outras mudanças requerem uma legitimação: como é o caso quando o passado deixa de fornecer precedentes para elas.
Portanto, de maneira paradoxa, o passado ainda continua a ser fonte analítica para as constantes mudanças, e se transforma na descoberta da história como um processo de mudança de direção.

Referências bibliográficas:

HOBSBAWN, Eric. O Sentido do Passado. In: Sobre História. São Paulo. Companhia das Letras. 1998, p. 22 - 35.

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