sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Da "Era vargas" aos "50 anos em 5" de Juscelino"

Oligopólio



Oligopólio é um sistema que faz parte da economia política que caracteriza um mercado onde existem poucos vendedores para muitos compradores.
Em um oligopólio, as alterações nas condições de atuação de uma empresa vai influenciar o desempenho de outras empresas no mercado. Isto provoca reações que são mais relevantes quando o número de empresas no oligopólio é reduzido.
Um oligopólio é caracterizado por:

* Um estado de hegemonia, no qual existe a luta para alcançar a supremacia total;

* Inflexibilidade de preços: os preços em vigor são estabilizados, sendo evitada a competição;

*Predominância dos preços, sendo que todos os vendedores aceitavam os preços estabelecidos;

* Ocorrência de ações em conjunto, frequentemente dando origem a trustes
.
Um truste é uma coligação econômica ou financeira, um agrupamento de empresas que tem como objetivo diminuir ou eliminar a concorrência, dividindo o mercado. Quando se verifica a formação de trustes, a concorrência é transferida para a área da qualidade e apoio ao cliente, porque não existe concorrência no que diz respeito aos preços.
No oligopólio, muitas vezes ocorre a criação de um cartel, onde as poucas empresas dominantes fazem um acordo para manter o preço do produto comercializado. Tanto o cartel como o truste exercem poder de pressão sobre o mercado. Ao contrário do truste, no cartel as empresas envolvidas continuam independentes no âmbito legal.
O oposto de oligopólio é designado como oligopsônio em mercado onde existem poucos compradores e um grande número de vendedores.

Oligopólio e monopólio


Tanto o monopólio como o oligopólio contribuem para uma concorrência imperfeita. A diferença entre o monopólio e o oligopólio é que no monopólio existe apenas um fornecedor ou vendedor, que domina o mercado enquanto no oligopólio existem poucos fornecedores do mesmo produto.
Quando um produto é considerado essencial para a economia de um país, muitas vezes esse país estabelece leis que impedem a criação de monopólios e oligopólios.

Oligopólio no Brasil

Talvez o maior exemplo de oligopólio no Brasil seja o mercado das telecomunicações no qual poucas empresas controlam o mercado no caso da telefonia móvel, a fusão das empresas TIM e Vivo constitui o primeiro oligipólio nesta área do mercado.




Também são conhecidos os oligopólios no caso da montagem de veículos, na produção de ônibus, por exemplo, o que pode contribuir para o aumento do preço no transporte público.



Forças propulsoras e as condições para a inversão de padrão de acumulação da industrialização brasileira pós 1930.



Na segunda metade do século XIX, a lavoura cafeeira proporcionava grande aumento nas exportações com o afluxo de capital estrangeiro obteve superávits, o Brasil estava subordinado financeiramente principalmente à Inglaterra; a economia voltada à produção de poucos gêneros para exploração e essa situação continuava assim até os anos 1930. Não era possível manter a economia e a vida do país nesse sistema produtivo tradicional.
Com a crise de 1929, o preço do café é severamente diminuído, causando redução nas importações e a interrupção do afluxo de capital estrangeiro. Já não se podia esperar da economia cafeeira o que ela deu no passado.



E a partir dos anos 1930 ocorre o início do processo de inversão do padrão de acumulação capitalista brasileiro, causado pelo rompimento entre a economia nacional e o capitalismo internacional, abriu-se daí o espaço para a expansão industrial brasileira. A revolução de 1930 marca o fim da hegemonia agrário – exportadora e o início da predominância da estrutura produtiva de base urbano – industrial, a economia precisava de uma base capitalista prévia que sustentasse o processo de uma inversão pretendido, que exigia grandes esforços quando da tentativa de se aprofundar  a divisão social do trabalho via industrialização.
Nesse processo ocorreram várias determinantes, mas as fundamentais, segundo Eribelto Peres Castilho foram:

1º) A emergência nesse processo de duas “novas” forças, novas em sua qualidade o Estado e o Capital financeiro internacional.

2º) A relação estabelecida entre a “moderna” indústria nascente e a manutenção do atraso na economia brasileira, representado, sobretudo, pela manutenção do setor agrícola nos mesmos moldes anacrônicos da famigerada economia colonial(produção de matérias – primas voltada para fora, precária mecanização no campo e a consequente exploração intensiva de força de trabalho), bem como pela constituição de um setor de serviços urbanos com baixíssima capitalização, implantado a base do puro concurso e talento da força de trabalho.

Das iniciativas interventoras do Estado na economia, a mais importante para a inversão do processo de acumulação pós 1930 foi o advento das legislações trabalhistas regulamentando o capital / trabalho.



Segundo Francisco de Oliveira, a legislação interpretou o salário mínimo como salário de subsistência: “os critérios de fixação do primeiro salário mínimo levavam em conta as necessidades alimentares ( em termos de calorias, proteínas etc)” para um padrão de trabalhador que deveria enfrentar um certo tipo de produção com um certo tipo de uso de força mecânica, comprometimento psíquico etc.         Não existe na legislação nenhuma incorporação dos ganhos de produtividade do trabalho, apenas uma lista de mantimentos básico denominada “Grupo de alimentos equivalentes aos da Ração – tipo”.
Se o salário fosse determinado por um mercado livre é provável que ele subisse para algumas categorias operárias, a regulamentação das leis operou a reconversão a um denominador comum de todas as categorias.
O Estado criava as bases para que a acumulação capitalista industrial pudesse se reproduzir, intervindo para destruir o modo de acumulação para qual a economia se inclinava naturalmente, criando e recriando esse antigo modelo. Houve a substituição dos preços do “velho mercado” por “preços sociais” para consolidar o “novo mercado”. Esses preços sociais atuavam no sentido de fazer a empresa capitalista industrial mais rentável.
O Estado passou a operar continuamente uma transferência não–automática de recursos e ganhos para a empresa industrial.
Era por meio do excedente da agroexportação que o país conseguiu meios para cumprir os pagamentos internacionais e é também por meio da política de câmbio, e do denominado confisco fiscal da agroexportações que se conseguia divisas para transferi-las ao impulso do setor industrial, a crescente industrialização dependia das exportações.
Ocorre a nacionalização dos setores básicos do Departamento I (bem de capital), com presença maciça do Estado, principalmente nos bens intermediários (chapas de ferro, aço, etc), seu financiamento era interno através da política cambial e do confisco cambial, assim como o Departamento II também sem financiamento externo.
Para que o Estado contivesse o salário real dos trabalhadores sem que o consumo fosse prejudicado era necessário subsídio a produção de bens de consumo do Departamento II, isto é, deveriam ser produzidos bens e serviços abaixo do custo de produção, transferindo em parte o poder de compra aos assalariados e financiando  assim, de forma indireta, a industrialização. Isto porque o barateamento da manutenção do trabalhador botava fora os custos da produção da força de trabalho e todo o aumento da produtividade era incorporado pela indústria.
O capital financeiro internacional teve a virtualidade de se transformar e potencializar a produção, a exploração do trabalho e trouxe também a incorporação de tecnologia mais avançada criando assim, saltos de produtividade.
Portanto, com ganhos concentrados nas mãos de poucos, a acumulação dá um salto, bem como a concentração de renda
.


 Processo de concentração de Renda nos Anos 1950 no Brasil.



O processo de concentração de renda nos anos 50 começa com o Plano de Metas que tinha a audaciosa ideia de um processo de aceleração econômica de cinquenta anos em cinco, realizada pelo Presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976). Ele começou com a inversão do padrão de acumulação brasileiro centrado no departamento III(bens duráveis) através da entrada de capital estrangeiro sem taxação cambial (capital de risco) e aumento da taxa de exploração do trabalho. No texto do professor Eribelto Peres Castilho “Formação e Desenvolvimento da Economia Brasileira”, ressalta a entrada da tecnologia como combustível para acumulação e concentração de renda em junção da exploração do trabalhador, usando argumentos de Francisco de Oliveira.

“Em primeiro lugar, incorporando-se rapidamente uma tecnologia mais avançada, a produtividade dará enormes saltos, ainda mais se essa incorporação se dá em condições das relações de produção que potencialmente já eram, de per si, concentradoras: sobre um mercado de trabalho marcado pelo custo irrisório da força de trabalho, os ganhos de produtividade logrados com a nova tecnologia vão acelerar ainda mais o processo de concentração de renda. A acumulação dá aí um salto de qualidade: a mera transferência de tecnologia, isto é, trabalho morto externo, potencializa enormemente a reprodução do capital.” (CASTILHO, Eribelto. Formação da Economia Brasileira (1889-1970), p.5).

Houve essa entrada de tecnologia junto com o capital estrangeiro, onde foram se instalando multinacionais que tinham a produção voltada para o mercado interno e seu lucro voltado para as matrizes do centro (Europa e EUA). Com essa entrada tecnológica se obteve uma explosão na produção, gerando bastante lucro para as empresas, para complementar não houve um aumento salarial para os trabalhadores referente ao salario mínimo, onde muitas vezes ele oscilava para menos, mantendo a mesma jornada de trabalho, isso gerou uma concentração de capital nas mãos dos investidores estrangeiros, ressaltando que as indústrias nacionais ficavam atreladas as multinacionais oferecendo matéria prima para a produção de automóveis, eletrodomésticos, etc.
Em resumo de tudo isso, é que havia uma demanda capitalista querendo “gastar” o seu capital, em que Juscelino habilmente soube se aproveitar para fomentar a industrialização brasileira, junto com a nova divisão do trabalho, onde os países periféricos como o Brasil deixaram de serem excepcionalmente produtores de matéria-prima, para se tornarem produtores de manufaturas, enquanto os países do centro como os EUA viraram produtores de manufaturas de bens de produção, em outras palavras os países desenvolvidos produziam tecnologia para os subdesenvolvidos para produzirem bens de consumo duráveis como automóvel, eletrodomésticos, entre outros, mas essa produção de bens duráveis sendo realizada por empresas do centro.



Financiamento interno e externo a implantação do Departamento de Bens de consumo Duráveis (DIII) na economia brasileira.


Antes de Juscelino colocar o seu plano econômico em prática, os alicerces dele foram implantados no Governo de Café Filho, onde seu ministro da fazenda Eugênio Gudin articulou tudo criando a instrução 113, conforme o texto do professor Eribelto que traz uma análise de Ângela Maria Souza sobre uma dissertação de Caio Prado Jr que foi publicada na Revista Brasiliense (1955-1964) que explica melhor essa instrução:

“Nas páginas 172-7 da versão de 1962, não constantes no texto de 1956, ele mostrava desdobradamente, mas na mesma linha do texto anterior, como as medidas tomadas foram onerando cada vez mais a economia nacional, em beneficio do capital estrangeiro, a exemplo da instrução 113 da Sumoc ( baixada durante a gestão Café Filho, em 1955, quando Eugênio Gudin era ministro da Fazenda e Octavio Gouveia de Bulhões estava na direção da Superintendência) que garantia aos capitalistas estrangeiros trazerem do exterior equipamentos sem despesa cambial, ou seja, poderiam se instalar no Brasil trazendo as maquinas que já possuíssem ou que tivessem condições de adquirir fora do país por conta própria, enquanto que os nacionais obrigados a pagarem a vista para a aquisição dos equipamentos de que necessitavam. Reações ocorreram, mas não foram capazes de reverter esta situação, tendo muitos industriais nacionais se associado a estrangeiros como forma se valerem desses benefícios." (CASTILHO, Eribelto. Formação da Economia Brasileira (1889-1970), p.12).

A instrução 113 foi uma ferramenta que J.K utilizou, e possibilitou a entrada do capital estrangeiro sem taxação, para ser realizada a acumulação do departamento III, onde a indústria automobilística foi o motor desse processo, conforme é descrito no texto:
“Esta indústria ‘liderou’ o investimento direto em outras indústrias, como a de borracha, de material plástico, de vidros, de material elétrico e de autopeças. Sua importância foi muito além da própria produção e expansão. Tornou-se símbolo do Governo de Juscelino Kubistchek e representou a modernidade e o desenvolvimento dos chamados ‘ Anos Dourados’”. (CASTILHO, Eribelto. Formação da Economia Brasileira (1889-1970), p.16).
O financiamento interno era um problema para o governo de JK, haviam problemas financeiros ocasionados por problemas estruturais para alimentar esse novo processo de acumulação para o Departamento III ( bens de consumo duráveis), como a ineficiência do Departamento I ( bens de produção e bens intermediários), tendo o governo de aumentar as importações em uma época que estava tendo poucas exportações, além de trazer infra estrutura como rodovias, matrizes energéticas para atender todo o novo setor de acumulação. A solução de Juscelino foi o aumento da inflação colocando na conta da população o investimento interno, assim se dava o processo de acumulação do Departamento III com a entrada de capital estrangeiro internacional em massa, mais a alta da inflação sobre os bens de consumo para o povo pagar.



Principais consequências da inversão no padrão de acumulação rumo à predominância do DIII da economia nos anos 1950.


Castilho cita argumentos de Francisco de Oliveira para explicar a crise no Balanço de Pagamento que desregula toda a econômia:

“As consequências dessa inversão de tendência do período imediatamente anterior [período Kubitschek] fazem-se sentir, sobretudo atualmente [1977]. Essa inversão restaurou-se – daí o codinome“ Restauração” Kubitschek – um padrão de relações centro-periferia num patamar mais alto da divisão internacional do trabalho do sistema capitalista, instaurado, por sua vez- e aqui constitui sua singularidade - , uma crise recorrente de Balanço de Pagamentos, que se expressa na contradição entre uma indústria voltada para o mercado interno mas financiada ou controlada pelo capital estrangeiro e a insuficiência de geração de meios de pagamentos internacionais para fazer voltar a circulação internacional de capitais a parte do excedente que pertence ao capital internacional” (CASTILHO, Eribelto. Formação da Economia Brasileira (1889-1970), p.19).

Para explorar melhor essa citação vamos voltar um pouco no tempo quando o Brasil antes deste padrão de acumulação tinha a exportação de produtos primários como seu principal alicerce de concentração de riquezas, neste caso pelo menos o país ficava com o lucro da exportação, onde o café gerava dinheiro para alavancar as indústrias e assim atrair capital estrangeiro e pagar as dívidas posteriormente, mas com esse novo padrão voltado para o Departamento III tem as multinacionais instaladas em solo brasileiro, onde a produção é voltada para o mercado interno, e esse dinheiro volta para as empresas estrangeiras sem nenhum retorno para o governo, temos assim uma falta de arrecadação de dinheiro para pagar ao mercado financeiro, o que nos leva á aqueles problemas econômicos citados no começo do texto.

domingo, 18 de agosto de 2019

Questões sobre o Movimento Operário na República Velha que repercutiram no início da industrialização do período "Era Vargas"

1 – Relação entre a Greve Geral de 1917 e o Processo Grevista na República Velha

Greve Geral 1917

A sociedade no início da República Velha vinha passando por várias transformações desde o final do segundo império no Brasil, uma delas foi a “imigração subvencionada” e estimulada pelo governo.

“Bastante estimulados pela propaganda do governo brasileiro sobre a terra da oportunidade, muitos europeus afluíram entre 1870 e o começo da Primeira Guerra Mundial. Vinham alemães, austríacos e poloneses, mas em sua grande maioria italianos, portugueses e espanhóis. Partindo da Itália, onde as condições econômicas eram precárias no sul agrário, uma multidão de trabalhadores acorreu para o Novo Mundo.” (Ibid, p. 17). 
A imigração subvencionada ocorreu entre 1870 e 1928, entre os anos de 1884 e 1903, o Brasil recebeu mais de um milhão de italianos, destes muitos tiveram sua viagem bancada pelo Estado de São Paulo, que necessitava de trabalhadores agrícolas. Isso terminaria em 1902, com a proibição da imigração livre pelo governo italiano, devido a maus tratos nas fazendas. A maioria dos imigrantes, em especial os italianos, eram mais politizados que os trabalhadores brasileiros, e conheciam doutrinas como o anarquismo, o socialismo e o comunismo.

Imigrantes Italianos

 As condições de vida e trabalho eram muito difíceis, segundo Claudio Batalha: 

“ A maioria dos trabalhadores estaria submetida a longas jornadas de trabalho -  que nos primeiros anos do século XX atingem 14 horas no Distrito Federal e 16 horas em São Paulo, com poucas possibilidades de descanso e lazer. Esses trabalhadores moravam em habitações precárias, como os cortiços; na periferia dos centros urbanos, padecendo de problemas de transporte e de infraestrutura, ou ainda, submetidos ao controle patronal, caso das vilas operárias.”

O governo não ajudava em nada os trabalhadores, ao contrário da estrutura de escoamento da produção cafeeira e algumas indústrias de maior parte como a tecelagem. Muitas medidas energéticas e violentas eram aplicadas pelo Estado aos operários como:

-Prisões arbitrárias;

-Expulsão de estrangeiros sem processo regular;

-Invasões de domicílios;

-Espancamentos;

-Empastelamento de jornais;

-Aprisionamento em lugares inóspitos da Amazônia;

-Mortes em manifestações.

As principais correntes ideológicas do Movimento Operário da República Velha era composta por socialistas que aportavam no Brasil, encontravam–se italianos veementemente contrários à implantação de um sistema monárquico na Iitália, e que, por este motivo foram encarcerados em sua terra natal, ao lado dos anarquistas.
O primeiro Congresso Socialista Brasileiro ocorreu em 1892 no Rio de Janeiro, nele foi fundado o 1º Partido Socialista Brasileiro. O segundo Congresso se realizou em maio de 1902 em São Paulo, nele também é fundado um Partido Socialista Brasileiro que desaparece rapidamente, junto com outros partidos.

“Os socialistas além de acreditarem na eficácia da luta parlamentar e na necessidade de um partido de base operária, tinham da realidade social da primeira república uma visão conciliatória que também se chocava com a ideologia anarco – sindicalista”( SILVA).

Só então o Congresso aprovou a organização direita anarquista, eles queriam que todos trabalhassem unidos por um movimento reformador, havendo uma disputa entre socialistas e anarquistas no que concerne à forma da ação operária. Algumas das reivindicações aprovadas no Segundo Congresso Socialista foram:

-A carga horária de 8 horas de trabalho;

-A criação de tribunas arbitrais nas disputas entre patrões e empregados;

-O imposto progressivo sobre heranças;

-A adoção do divórcio;

-A supressão do exército permanente;

-O fornecimento gratuito de luz e água para o povo;

-Educação gratuita e obrigatória para os maiores de 14 anos.

As greves estavam aumentando, respondendo a opressão mais forte do capitalismo. Em 1901 uma greve dos trabalhadores de Pedreira, reivindicando a jornada diária de 12 para 10 horas triunfou:

“ Os sucessos alcançados antes da recessão econômica foram obtidos com dificuldade. No Rio em 1903, a intervenção policial ajudou com duas greves: a dos cocheiros, ‘pobre tentativa de planos e sem chefes’, e uma greve, de 20 dias da qual participaram milhares de trabalhadores da indústria têxtil , esta ficou perpetuada na história brasileira de reivindicações operárias. Houve ainda no período uma greve geral.”(DULLES, John W. Foster).

Havia uma enorme perseguição patronal aos grevistas principalmente com a ação violenta da polícia, além de uma série de mecanismos coercitivos visando à intimidação e marginalização dos operários.
A greve de 1903 na fábrica de tecidos Carioca foi um marco para o movimento sindical, visando a obter redução de jornada e aumento de salários, ela se estendeu a trabalhadores de outras empresas e durou 20 dias. Os anos de 1906 – 1907 foram marcados por greves em setores estratégicos como têxteis e ferroviários entre outros.
O congresso de 1906 marca uma greve geral para o dia 1º de maio de 1907 e ela ocorre na data prevista, a principal reivindicação da greve era a redução da jornada de trabalho para oito horas.

“No começo do século a jornada de trabalho é de 14 horas nas fábricas de tecido, em 1911 já diminuíra para 11h, na construção civil trabalhava-se 8h, na indústria de chapéus 9h, nas oficinas mecânicas da Leopoldina de 12 a 13h às vezes 16h a 18h, em determinados serviços 11h ininterruptas” (DULLES).

Todas as ideologias políticas, confrontos e greves que foram citados têm uma relação muito parecida com a classe trabalhadora dos anos 1910, em especial 1917, pois ainda havia todos os elementos presentes, jornadas de trabalho de até 16h, trabalho infantil, nenhum direito para as mulheres entre outros, sem falar nos preços dos gêneros alimentícios que continuavam a subir desde os primeiros dias do ano, com artigos que custavam de 20 a 150 % mais caros que no ano anterior. Danielle Franco da Rocha diz:

“Em 10 de junho de 1917, os tecelões do Cotonifício Crespi, de propriedade do Comendador Rodolfo Crespi, situado no bairro Industrial da Mooca, na capital paulista, pediram aumento salarial de 25 %. Embora a economia brasileira prosperasse, a reivindicação foi recusada. Assim, os operários do cotonifício Crespi deram início ao que se transformaria na mais famosa greve da História de São Paulo.”


Tecelagem Cotonifício Crespi

O movimento se abrangeu a trabalhadores nos bairros da Mooca, Brás e Cambuci. Na primeira semana de julho o movimento ganha proporções maiores, as batalhas entre policiais e grevistas vão se intensificando. No dia 18 de julho é realizada uma assembleia proposta pelos anarquistas para que se formasse um comitê de greve, um dia depois em confronto entre grevistas e forças repressoras uma bala atinge o sapateiro espanhol José Martinez, no dia 10 de julho ele morre e a greve geral ganharia contornos cada vez mais nítidos.
Na manhã de 11 de julho, uma multidão se concentrava em frente ao número 91 da Rua Caetano Pinto no Brás, mulheres carregavam bandeiras vermelhas anunciando um cortejo fúnebre, a comoção foi enorme. A greve geral estava decretada, no dia 12 de julho a cidade de São Paulo estava com suas forças vitais paralisadas, a greve ocupa a cidade por inteiro.
O comitê de defesa proletária foi fundado pelos anarquistas para negociar as reivindicações operárias, era composto por jornalistas operários como Edgard Lewenroth do “A Plebe”, entre outros.

“Ao meio dia do dia 14 de junho, os jornalistas se reuniram em ‘ O Estado de São Paulo’ com Rodolfo Crespi, Ermelino Matarazzo, Jorge Street e outros industriais. Os industriais mantiveram sua concordância em elevar os salários em 20 %, dispuseram – se a respeitar o direito dos operários de formar associações, a não dispensar nenhum empregado por tomar parte da greve e a melhorar as condições morais, materiais e econômicas da força de trabalho de São Paulo. A Cia. Light & Power e a Cia. Paulista de Estradas de Ferro, ambas de propriedade estrangeira, não se fizeram representar”. (Ibid, p.55).

Assim, a greve geral de 1917 marcou um dos movimentos em que a força do movimento operário anarquista se demonstrou. Nunca na história deste país, uma greve provocou um impacto tão grande. Apesar de limitada às regiões industrializadas, nos locais em que se efetuou, teve um impressionante grau de adesão por parte da sociedade.

Movimento Operário Anarquista 


2 – Comitê de Defesa Proletária do Movimento do Custo de Vida na República Velha




O comitê de defesa operária foi um movimento ocorrido em São Paulo, formado por líderes trabalhistas durante os conflitos de 1917, que representou toda a insatisfação acumulada dos trabalhadores nas primeiras décadas da república brasileira, defendendo o fechamento das organizações sindicais. O movimento foi fundado para que os trabalhadores conquistassem um mínimo de respeito dentro das fábricas; Sua principal função era coordenar as reivindicações dos operários que eram impedidos de realizar assembléias. Sua principal atuação na greve de 1917 foi a elaboração das 11 reivindicações e a reunião de uma multidão operária no hipódromo da Mooca, e que impôs que esta greve só findaria quando as 11 exigências fossem atendidas, as quais industriais concordaram com:

• Aumento salarial de 20%;

• Respeito aos direitos operários de formar associações;

• Não dispensar trabalhadores grevistas;

• Melhores condições morais, materiais e econômicas.


3 – COB – Confederação Operária Brasileira e suas correntes ideológicas


A Confederação Operária Brasileira(COB) foi uma iniciativa discutida durante o 1º Congresso Operário Nacional, os socialistas não tiveram sucesso na fundação de um partido socialista em 1906, estiveram presentes 43 delegados, representando 28 associações.
Havia diferentes linhas políticas no seu interior, representadas por ativistas de orientações diversas:

-Socialistas;

-Sindicatos Anarquistas;

-Reformistas.

A maioria dos militantes era do Rio de Janeiro e São Paulo, dentre eles:

-Edgard Lewenroth;

-Astrogildo Pereira;

-João Crispin;

-Luigi Magrassi

-Motta Assunção. 

Adotando os moldes da CGT(Confédération Générale du Travail), a COB foi organizada apenas em março de 1908, na cidade do Rio de Janeiro.
A COB “era formada por federações nacionais de indústria de ofício, uniões locais e estaduais de sindicatos isolados em locais onde não existiam federações ou de indústrias  e ofícios não federados”. (TOLEDO, 2013, p.14).
A partir do ano de 1908, a Confederação Operária brasileira publicou no jornal  “ A voz do Trabalhador”, no mesmo ano teve presença marcante:

“Conferação Operária Brasileira (COB) cuja criação foi decidida pelo 1º Congresso Operário Brasileiro de 1906, mas que somente seria estruturada em 1908 e funcionaria até o ano seguinte, voltando  a atuar mais tarde, entre 1913 e 1915. Em termos práticos, a COB contou apenas com a estrutura da Federação Operária do Rio de Janeiro, sem ter uma efetiva organização própria, nem tampouco uma dimensão nacional. Todas as demais tentativas de constituir centrais sindicais nacionais nesse período padeceram – em maior ou menor grau -  esse mesmo tipo de problema: a ausência de uma base nacional real.” (BATALHA, Claudio. Op. Cit, p.20).

No Congresso de 1912, o governo tentava se aproximar dos congressos operários, financiando e definindo a delegação e indicando o filho do presidente da República: Hermes da Fonseca (Hermes da Fonseca Filho) para a presidência honorária.
Em relação a esse episódio:

“Em setembro de 1913 reuniu-se no Rio de Janeiro o 2º Congresso Operário Brasileiro, uma resposta da COB e do sindicalismo revolucionário ao congresso reformista do ano anterior, o 4º Congresso Operário Brasileiro, que havia sido por eles duramente condenado. Com 63 delegações e quatro jornais operários, o Congresso reafirmou teses de 1906 tais como não participação na política partidária, privilegiando os sindicatos por ofício e por indústria como forma de organização, condenando o mutualismo e o cooperativismo. E a propositura da greve geral caso o Brasil entrasse em guerra externa” (BATALHA, Claudio. Op. Cit. p. 48)

Membros da COB



4 – O fenômeno das Vilas Operárias e sua relação com o processo de industrialização brasileira.

Vila Operária

Para explicar como se deu o fenômeno das Vilas operárias e sua relação com o processo de industrialização, é interessante perceber a princípio como se deu o processo de urbanização. Conforme leitura de autores como Caio Prado Junior, Emilia Viotti e da arquiteta Regina Helena Viera Santos, do Departamento do Patrimônio Histórico, que dissertou sobre a urbanização estimulada pela industrialização, pode-se perceber que as relações entre o processo de industrialização e as vilas operárias consistem, sobretudo, na necessidade da mão-de-obra. 
A transformação do regime de trabalho (servil – assalariado) assegura o progresso da produção no Brasil. A princípio, para Viotti muitas foram as dificuldades da urbanização como o trabalho escravo ou semi - servil, o latifúndio autossuficiente, economia baseada na exportação, sistema político paternalista e marginalização das camadas da sociedade.
Mesmo com as dificuldades citadas acima, surgiam transformações que favoreciam a urbanização como o desenvolvimento das ferrovias (melhoria no sistema de transporte), imigração, abolição, crescimento do mercado interno, a industrialização.


5 - Principais obstáculos enfrentados pela Era Vargas para a industrialização no Brasil

Presidente Getúlio Vargas


O processo de industrialização no Brasil se deu de maneira tardia e se desenvolveu após o rompimento de algumas políticas que desfavoreciam a indústria brasileira.  Desde a chegada da família real portuguesa com a abertura dos portos às nações amigas, o que resultaria numa competição desleal para os nossos produtos em relação aos estrangeiros. Os estrangeiros durante muito tempo foram mais baratos por conta de tarifas alfandegárias mais baixas (cerca de 15% ad valorem), o que em relação ao produto nacional era desvantajoso para o mercado interno, além da qualidade ser considerada superior, muitas vezes, o que nos possibilita uma ideia geral do cenário vivido pela nossa indústria. Some –se a isso o fato de o Brasil desde a época da colonização ser basicamente um país agropecuário, e os produtos de maioria manufaturados, o que os encarecia também sobremaneira. Também havia como obstáculo a questão energética, pois nosso país é pobre em carvão de pedra, além da ausência da indústria siderúrgica que já era presente em outros países. As poucas existentes em nosso país não exploraram devido à dificuldade de acesso o ferro – produto abundante no Brasil – o que também nos atrasou no processo de industrialização. Além disso, o comércio interno era escasso, já que a maior parte do país era pobre. Como diz o texto:
“Mas o que sobretudo dificultava o estabelecimento da indústria moderna no Brasil era a deficiência dos mercados consumidores, cuja amplitude se encontra na produção em larga escala, que caracteriza a maquinofatura, uma condição essencial que nada pode suprir. A situação brasileira, neste particular, era a mais inconveniente.”
O Brasil também tinha outra dificuldade que atrasou e muito a comercialização dos produtos por todo o país: a falta dos transportes dificultava demais a distribuição de produtos.
Com todos esses inconvenientes, o Brasil foi dependente de produtos estrangeiros -  grande parte europeu – até metade do século XX nosso país era praticamente dependente do mercado externo em questão industrial. Isso ficou claro na crise de 1929, que mostrou o quanto o país precisava se diversificar para sanar suas principais deficiências econômicas, para tanto a indústria precisava de incentivos, de mudanças e desenvolvimento. 
Então em 1930, Getúlio Vargas entra no poder e começa a estabelecer mudanças com o objetivo de desenvolver e expandir nossa indústria e, para tanto, cria medidas que beneficiam tanto os donos de indústria quanto os trabalhadores, o que culmina na construção da conhecida Vale do Rio Doce e a Usina de Volta Redonda. Além da edição e promulgação da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) que vigora até hoje e rege as leis de trabalho, atualmente já com bastantes alterações. Essas políticas foram seguidas por outros governos para que aos poucos mais indústrias de diversas vertentes fossem sendo instaladas gerando emprego e solidificando a economia interna.


A Revolução Francesa e os Três Estados


A França setecentista passava por graves problemas econômicos com a produção agrícola abaixo do esperado, uma atividade industrial lenta e com graves disparidades sociais, na qual boa parte da população suportava o jugo de altos tributos e de relações ainda feudais impostos pela Nobreza que constituía a corte real, além da desoneração tributária que desfrutava a Igreja Católica na vida francesa.
O Terceiro Estado constituído por boa parte dos trabalhadores urbanos e rurais em diferentes ocupações e pelos ditos burgueses apesar de serem segmentos complexos da sociedade (Hampson, 1984, p. 47 apud Marques, Berutti e Fraria, 2003, p. 18) tinha em comum o desejo de se libertarem destas amarras institucionais.
Os mais afortunados que possuíam um padrão de vida melhor que seus concidadãos sans - culottes e camponeses queriam ascender politicamente na possibilidade de aumentarem seus patrimônios e de colocarem em prática sua visão de vida social nacional se aproveitaram deste quadro cético, ou seja, de descredibilidade para com as elites do Antigo Regime que as via como parasitária e desprovida de virtudes medievais, e de caráter utilitário de organizar uma nova sociedade que na sua instauração contaria com homens insatisfeitos com esse quadro social que retirando essa elite colocaria os colocaria no poder, podendo assim essa nova elite aplicar os valores modernos e saciar sua sede de modernidade, claro contando com os votos de lealdade do povo revolucionário para rechaçar as contrarrevoluções, criando deste modo uma nova ordem e uma coesão social utilitária a serviço de seus interesses (idem).

Sans - Culottes

E o Terceiro Estado de fato tinha uma importância muito grande, não por constituírem mais 90% da vida nacional, mas principalmente por serem responsáveis do dinamismo que existia na decadente ordem medieval setecentista, sendo que Tugot que fora nomeado o homem com a missão de tirar a França da lentidão enxergava na modernização econômica o papel que esse segmento social poderia desempenhar para alavancar o crescimento francês.
Essa visão de anterior aos eventos de 1789 foi adotada nas vésperas da Revolução em que o principal papel dela seria modernizar a França em vários aspectos com a participação ativa dos subsegmentos na qual a Nação francesa só por meio dela retomaria sua grandeza (Sieyes apud Marques, Berutti e Fraria, 2003, p 18 e 19).

Turgot

A Revolução foi feita com os combates protagonizados pelas massas que lutaram com afinco contra os legalistas da antiga ordem na qual se presenciaram um imenso banho de sangue e de destruição física daquilo que representava a antiga ordem de uma França combalida pelo atraso, incluindo o próprio Rei que mesmo considerado inocente anteriormente pelos desmandos feitos em seu nome pelas elites(idem), logo se percebia sua responsabilidade em permitir que tais elitistas fizessem a França em ser uma Nação decadente.
Mas quem incito-la lutar foi o subsegmento que tinha poder politico para poder orientar contra quem deviam danar e de que modo deviam danar os contrarrevolucionários, sendo pela qual as jornadas revolucionárias ficaram conhecida como a Revolução Burguesa.
A dita Burguesia ao evocar os fantasmas da reação das antigas elites pôde manejar as massas, mas ao tempo ela pudesse de caráter utilitário aproveitar os aspectos que julgava positivo do Antigo Regime evitando que se desdobrasse em lutas sociais mais radicais, porém não podendo evitar a derrubada dos vestígios, ao seu modo de ver, da ordem senhoril (Lefebvre, 1979, p. 191-2 apud Marques, Berutti e Fraria, 2003, p 22,23 e 24).
Mas esta massa revolucionária sabia bem de seu poder e, portanto entre elas havia interesses opostos na qual a elite política mais radical devia conciliar bem seus interesses para evitar uma reação fulminante e uma desordem social grave (Moore Jr, 1983, p. 112-3, apud Marques, Berutti e Fraria, 2003, p 24,25 e 26).
Os camponeses estavam fartos de produzir grandes quantidades sem gratas compensações para os revolucionários urbanos na qual podemos ver até a onde a Revolução pode ir caso as demandas diversas não sejam atendidas (idem).
E assim se faz as políticas dentro das conhecidas jornadas revolucionárias burguesas que surgem das classes populares e em seguida são direcionadas pelos ditos burgueses aonde se constitui uma nova ordem social utilitária.

Rosa Luxemburgo

A revolucionária comunista Rosa Luxemburgo

A Alemanha teve o processo de formação nacional e industrialização no final do século XIX mais precisamente no ano de 1870, onde é conhecido como capitalismo tardio. Com isso ela entra para o cenário econômico mundial de forma atrasada, e mesmo assim em poucos anos junto com o seu processo de nacionalismo ela alcança as grandes potências econômicas da época, como Inglaterra e França. Não tendo como expandir a sua economia, o estado alemão decide expandir através de conquista de territórios em potenciais para a sua expansão econômica, e enxerga a Rússia como possível território para tal expansão. A Alemanha invadiu a Rússia usando o território belga como caminho, e as grandes potencias europeias (Inglaterra e França) enxergam este ato como uma ameaça para a soberania destas nações e começa a Primeira Guerra Mundial em 1914.
O império alemão entra na guerra, mas antes dela eclodir tinham algumas lideranças do Partido Social-Democrata Alemão (SPD) que eram contra a Alemanha começar uma guerra, entre esses intelectuais do partido estavam na frente Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht. No filme intitulado “ Rosa Luxemburgo” de 1986 dirigido pela diretora Margarethe von Trotta reproduz com bastante perspicácia este momento até a criação da República de Weimar em 1919, após a Alemanha ter sido humilhada no Pacto de Varsóvia.
O segundo Reich vem á declínio e é instaurada a República de Weimar, onde o SPD ascende ao poder através de eleições, com isto acaba abrindo espaço para dois grupos extremistas, os comunistas (KPD) com amplo apoio dos operários e os nazistas (NSDAP) com apoio dos camponeses. Para as pretensões comunistas a ascensão do partido social democrata ao poder era ruim, conforme evidencia Gabriel Aragón em seu artigo publicado em 2017 em que disserta sobre os riscos sobre a radicalização extrema na política.
“A vitória eleitoral dos sociais-democratas no estado da Prússia provou-se uma catástrofe para os comunistas, pois eles, ao contrário do que aconteceu na Rússia, a esquerda alemã havia, em sua maior parte, abandonado o ideal revolucionário e adotado um aspecto mais reformador. As novas leis de proteção ao trabalhador, de pensões estatais, escolas e hospitais de acesso popular, enfureceram os comunistas, que tinham noção que o clamor revolucionário morreria caso o padrão de vida da classe trabalhadora fosse confortável”. (ARAGÓN, Gabriel- A República de Weimar e os riscos da radicalização política extrema, 2017).
O filme "Rosa Luxemburgo"(1986), dirigido por Margarethe Von Trotta, explora bastante este momento, onde em 1918 é criada a Liga Espartaquista por Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, ela era contra uma ação direta contra a República, mas Liebknecht decidiu entrar em uma luta armada, porém eles foram derrotados. Logo após a derrota a SPD começou a eliminar seus opositores e entre eles os dois foram mortos. Isto marca o começo do período de autoritarismo na Alemanha, onde aqueles que fazem oposição ao governo são censurados e eliminados fisicamente. Haviam também brigas de rua das duas alas extremistas da Alemanha, onde os nazista e comunistas se digladiavam em pró de suas ideologias, mas estes fatos não depreciam a República de Weimar que foi a primeira no mundo que trouxe garantias sociais aos cidadãos alemães, junto com a ajuda financeira dos EUA, para reerguer o estado alemão após a Primeira Guerra Mundial, tendo grandes avanços sociais como por exemplo garantias de moradia, saúde, educação, que antes em lugar nenhum do mundo eram ofertadas pelo governo através do recolhimento de impostos,  que anteriormente somente quem tinha capital financeiro tinha acesso a esses direitos básicos.

Propaganda da Liga Espartaquista

A República de Weimar estava dando certo, obtendo bastante ordem social, apesar do autoritarismo, mas houve um evento que marcou a história que veio a culminar em seu declínio, que foi a crise de 1929 mundialmente conhecida como a Grande Depressão, com a crise no mercado financeiro começando nos EUA o maior investidor na reconstrução do estado alemão, passou a parar de chegar dinheiro na Alemanha, e o SPD se viu incapaz de continuar os avanços sociais da república. Para agravar mais ainda a crise no governo, a Alemanha tinha que pagar a sua dívida para a França, referente a indenização pelos prejuízos que ela sofreu na Primeira Guerra Mundial, tudo isto foi um gatilho para que a inflação começasse a subir de forma descontrolada chegando a números astronômicos de 1000000%, o que desvalorizou a moeda alemã, e deixou aquela sociedade na miséria, para se ter uma ideia aqueles trabalhadores que tinham feito suas economias a sua vida inteira, tinham dinheiro apenas para um simples café.
Todos estes acontecimentos levaram ao declínio da República de Weimar e a ascensão dos grupos extremistas na Alemanha, os comunistas e nazistas se fortaleceram, em especial os nazistas com o seu líder Adolf Hitler com uma ótima retórica foi ganhando adeptos a suas ideias extremistas como por exemplo colocar a culpa nos judeus pela situação em que os alemães estavam vivendo. Posteriormente ele consegue ascender ao poder na década de 30 do século XX, e leva consigo todas aquelas conquistas sociais para o “ ralo”, além de começar a Segunda Guerra Mundial em 1939.


Rosa Luxemburgo discursando



Fonte:

https://auroraoriental.wordpress.com/2017/11/03/a-republica-de-weimar-e-os-riscos-da-radicalizacao-politica-extrema/

terça-feira, 13 de agosto de 2019

A Importância do Rei do Ponto de Vista Político e Religioso



Segundo o texto A Realeza Sagrada Nos Primeiros Séculos da Idade Média de Marc Bloch ” o milagre régio apresenta-se sobretudo como a expressão de certo conceito de poder político supremo”. (p. 68)
A importância de se ter um soberano era que ele também era identificado como sagrado e essa identificação era comum a uma parte da Europa, especificamente à França e Inglaterra, que será objeto de estudo na obra de Marc Bloch.
Do ponto de vista religioso, o texto registra que na França e Inglaterra os reis conseguiram se tornar médicos milagrosos aos olhos do povo, porque eram vistos como enviados e ungidos de Deus, e portanto, detinham poder para curar doentes. O texto cita que Pierre de Blois disse: “ sanctus enim et christus Domini est”. (o rei é santo, é o ungido do Senhor), e se referia ao seu soberano Henrique  II, seu monarca. Assim, conseguimos entender que o homem medieval via na figura régia alguém santificado por Deus, e como nesse contexto, não podemos dissociar o religioso do político, quem fosse contrário ao seu rei, também era alguém que era visto como um sacrilégio e por assim dizer, as suas decisões eram permeadas por religiosidade.

De que forma o passado bíblico e da Antiguidade Clássica se faziam presente no medievo e qual sua importância?

O texto mostra que os povos que se originaram de invasões mantinham ao redor da realeza uma atmosfera quase religiosa de veneração e foi na Bíblia que encontraram um modelo que concedeu uma união entre o cristianismo e realeza sagrada nas idades antigas. O texto cita o capítulo 14 de Gênesis que fala sobre Abrão recebendo pão e vinho das mãos de Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo. E o Antigo Testamento não era só uma fonte de simbolismos, mas apresentava um modelo de uma concreta instituição. O caráter sobrenatural era marcado pela unção. Quando o soberano ascendia ao trono, algumas partes do seu corpo eram ungidas com óleo previamente santificado.
Essa unção se concretizou primeiro na Espanha após o desaparecimento do arianismo e a Igreja e a dinastia viviam uma união íntima no século VII. Depois veio a França com Pepino, filho de Carlos Martelo, em  751, e foi o primeiro a receber a unção de sacerdotes.
Unção Régia:
Espanha(séc. VII)______Pepino, na França em 751 -------------Fim do séc. VIII, na Inglaterra. 
Ao mesmo tempo em 25 de dezembro de 800 na basílica de São Pedro, o Papa Leão III colocou uma coroa em Carlos Magno e o proclamou Imperador.Os reis haviam se tornado assim “ungidos do Senhor”.




Qual ou quais as relações convergentes e divergentes entre a figura do rei e a Igreja?

As relações convergentes são aquelas em que os soberanos monarcas haviam se tornado como “ungidos” de Deus, posto que recebiam semelhante unção a de um sacerdote.
Mas na consagração, o sacerdote era superior ao rei, já que um rei dependia da consagração eclesiástica, já o sacerdote não era ungido por reis, mas por integrantes da própria Igreja. Tanto que esse pensamento levou o rei Henrique I da Alemanha a ser o único do seu tempoa recusar a unção e a coroa que o arcebispo de Meinz lhe propôs e sem a benção de um pontífice. A  discussão acerca da unção de reis foi ficando cada vez mais acentuada entre os membros do clero. Conforme cita o texto:”... certos espíritos penetrantes depreenderam bastante bem os perigos com o que semelhante confusão entre uma dignidade essencialmente temporal e o sacerdócio podia ameaçar a Igreja e até o cristianismo.(p.79)”No século XI, todo um partido dedicou-se a comparar a dignidade régia ao sacerdócio”. Essa unção e a procura de pessoas que buiscavam no rei cura para suas enfermidades, mais comumente as escrófulas, uma espécie de inchaço nos gânglios, foi chegando a causar mal estar por parte de alguns sacerdotes, porque as pessoas, muitas vezes,  preferiam ir até o rei do que buscar a unção de um sacerdote, daí começou a  existir uma corrente que viu na unção da realeza, uma instituição que ameaçava a influência da Igreja sobre as pessoas.

Considerações gerais sobre a importância do rei no Ocidente Medieval:

Portanto, a figura régia detinha um conceito sacro para o homem medieval no Ocidente, mais especificamente aqui estudados por França e Inglaterra, assim o rei foi ganhando um conceito de santo como os pontífices. Tanto que ganharam uma unção semelhante a de um sacerdote. A população passava a vê-lo como capaz de realizar milagres. Alguns reis tocavam doentes e acreditava-se no poder de cura , e por conta disso, o rei foi ganhando papel fundamental para um país, pois era visto como sagrado e ungido de Deus até pela influência que havia na Bíblia em relação à unção de um rei. E então, ele ganhou um papel não só miraculoso, mas sagrado no Ocidente Medieval.



Referências Bibliográficas:

"A REALEZA SAGRADA NOS PRIMEIROS SÉCULOS DA IDADE MÉDIA" in: BLOCH, Marc. Os Reis Taumaturgos. São Paulo: Cia das Letras, 1998, p. 68-71


Os Contos da Cantuária



A importante obra “Os contos da Cantuária” ou em inglês “The Canterbury Tales”, foi escrita por Geoffrey Chaucer, que se tornou importante legado  literário medieval na história da Inglaterra antes mesmo de William Shakespeare. Nascido por volta do ano de 1343, Chaucer escreve a obra em Inglês Médio. E nela são narrados contos, alguns em verso outros em prosa, e são descritos por peregrinos por assim dizer, de um grupo que está caminhando de Southwark até a catedral de Cantuária para visitar o túmulo de São Thomas Beckett. O que chama atenção é que entre esses peregrinos, estão reunidas pessoas provindas de todas as camadas sociais, dos mais abastados aos mais pobres, dos mais letrados aos mais ignorantes, e com isso podemos perceber representantes de toda a sociedade inglesa dos dias do autor. Os contos contêm situações curiosas, algumas contêm citações clássicas, como é o caso do conto ao qual iremos nos ater: o conto do cavaleiro.
O conto do cavaleiro aqui será analisado dentro do eixo temático Cultura e Literatura baseando – nos na leitura de Ernst Curtius no texto “Literatura Europeia e Idade Média Latina” que servirá como norteador para entendermos o pensamento cultural que permeava a literatura medieval, qual sua origem e o porquê da literatura ser estudada em ambientes escolares e acadêmicos desde aquela época.
O texto de Chaucer conta a história de dois homens chamados Arcita e Palamon e suas desventuras e batalhas pelo amor de Emília. No princípio, o conto narra que Teseu, soberano duque de Atenas, conquistava muitas terras em sua época, conta que conquistou a terra das amazonas, na qual sua soberana seria sua futura esposa, Hipólita, irmã de Emília, aqui a dama venerada, objeto do amor impossível de dois cavaleiros. 
A narrativa nos mostra que Teseu retornava de uma batalha, feliz e tranquilo por ter vencido, quando se depara com senhoras viúvas que se ajoelharam perante ele a pedir-lhe justiça pelos cadáveres de seus maridos que foram derrotados em Tebas por Creonte, que tomou o trono da cidade e não lhes permitiu que seus maridos recebessem as honras fúnebres. A cena das viúvas o comoveu de tal forma que ele imediatamente se dirigiu a Tebas para fazer justiça àquelas que se humilharam diante dele.
Enquanto separavam os corpos, encontraram dois jovens que ainda estavam vivos, Arcita e Palamon, e descobriu-se que possuíam sangue real, então Teseu mandou-os a Atenas a serem presos eternamente. Um dia, a bela Emília, como é descrita no conto, sai para caminhar e Palamon, que tinha permissão de olhar pelas grades da torre, vê Emília, e começa então a lamentar-se; a chorar a sua sorte e a maldizer sua vida. Então ele conta a seu primo Arcita sua desventura e ele curioso para ver qual a razão desse lamento e tristeza também a vê e  se apaixona imediatamente por Emília. Os dois começam então uma disputa por seu amor até o final do conto. Arcita consegue exílio em sua terra e é posto em liberdade, mas com a condição de que jamais poderia voltar a Atenas, sob a pena de morte caso o fizesse. E ele parte para Tebas, mas a dor de estar longe de sua amada é tão penosa para ele, que decide voltar disfarçado para Atenas, já que estava irreconhecível pelo sofrimento por que passara. Já Palamon permanecia preso a lamentar a sua sorte. Arcita voltou a Atenas e conseguiu um bom trabalho na corte, isso porque até então ninguém o reconhecera. Dados esses fatos, chega o dia que Palamon se encoraja e decide fugir de sua prisão eterna, era tudo ou nada, pelo amor de Emília, quando acaba reconhecendo Arcita e vê que ele estava próximo à sua amada. Então os dois se aproximam e marcam um duelo, quem sobrevivesse seria digno de desposá-la. No dia do desafio enquanto estavam já ambos muito feridos, foram descobertos por Teseu, que acompanhado de Hipólita, ficou muito surpreso ao reconhecer ali seus dois prisioneiros. Mas percebendo que o duelo era por questões amorosas, demonstrou – se misericordioso. Decidiu então postergar e marcar um outro duelo entre os rivais, assim o destino decidiria quem deveria de ficar com Emília. Ambos rezaram para seus deuses, e o conto narra que houve certa briga entre os deuses por qual deveria de ser o vencedor, mas afinal Arcita morre e Palamon e Emília se casam.



O que se pode notar a partir da leitura desse texto, analisando a narrativa de Geoffrey Chaucer a partir do contexto histórico em que vivia a Inglaterra, é que sua literatura foi importante para a consolidação da língua inglesa na corte da Inglaterra, já que nesse momento, falava-se também o francês, e os contos da Cantuária foram escritos em inglês. Isso trouxe uma identidade cultural e linguística muito mais forte aos ingleses.
“Essa longa associação com a realeza, além de estimular a atividade literária de Chaucer, – tanto assim que todas as suas obras foram obras de ocasião, destinadas à leitura perante a corte, – dava-lhe a oportunidade de aprofundar os seus contactos com os grandes centros culturais e artísticos do continente europeu. (Paulo Vizioli – Apresentação dos Contos da Canturária – p. 5)”.
Essa citação nos mostra já na apresentação que Chaucer esteve na presença de importantes pessoas, o que lhe possibilitou uma formação cultural mais ampla. Sabe-se que na Inglaterra, a consolidação da literatura foi um pouco demorada. Havia certo desprezo ao latim bíblico em outros países como a Espanha, porém em terras de origem bárbara que só aprenderam o latim devido à Igreja, houve uma preocupação com a cultura latina que veio do eixo Irlanda- Escócia e logo chegou à Inglaterra, como nos afirma o texto de Ernst Curtius : 
“Esse desdém pela linguagem bíblica, que ainda encontramos na Espanha  romano -  visigótica, não tinha razão de ser nas terras ‘bárbaras’, que nunca haviam pertencido ao Imperium e que só aprenderam o latim por intermédio da Igreja. Foi o caso da Irlanda e da cultura e da cultura irlando – escocesa que irradiou para a Inglaterra. E vale também para a cultura anglo – saxônica que Aldhelm representava. O precursor dessa cultura foi Aldhelm, que logo caiu no esquecimento. Seu realizador foi Beda -  o Venerável(672 – 735), que na qualidade de monge da Nortúmbria, consagrou toda a sua vida à ciência, conquistando glória duradoura com sua história da Igreja anglo-saxã.” (CURTIUS, 1996 p. 83).
Esse panorama histórico precursor do período de Chaucer nos ajuda a entender o que antecedeu como forma de Educação e Cultura e como todo o processo educacional e literário se desenvolveu até seus dias para assim definir a sua importância para a Inglaterra e o que significou para o homem medieval inglês os contos de Chaucer, especificamente o Conto do Cavaleiro, ao qual iremos analisar com bastante atenção posteriormente.
Antes de tudo vamos entender a importância da literatura na cultura medieval e de onde ela se originou, segundo Curtius: 
“A literatura faz parte da ‘educação’. Por quê, e desde quando? Porque os gregos encontraram num poeta o reflexo ideal de seu passado, de sua existência, do mundo e dos deuses. Não possuíam livros sacros nem castas sacerdotais. Sua tradição era Homero. Já no século VI era um clássico. Desde então a literatura é disciplina escolar, e a continuidade da literatura europeia está ligada à escola. A educação é portadora da tradição literária: estado de coisas que pertence à característica europeia, mas à qual não está essencialmente condicionado.” (CURTIUS, 1996, p. 71).



Assim conseguimos perceber que a literatura é inerente ao processo educacional, pois a literatura traduz uma expressão artística com palavras e, em todo o tempo em que ocorrem manifestações artísticas, seja por meio da literatura, seja por meio da música, esculturas, pinturas ou qualquer outro tipo, elas consequentemente refletem o seu período histórico, como será demonstrado adiante por meio de breve análise literária do conto selecionado.
Entendamos as características do conto do cavaleiro: ele é um romance de cavalaria ou novela de cavalaria, ou seja, é um tipo de narrativa típica em prosa da Idade Média. As grandes características que podemos observar nesse tipo de narrativa é que conta atos grandiosos e heroicos de cavaleiros medievais:
“O dia de seu regresso se aproxima, no qual, como já disse, cada um deveria, com um grupo de cem cavaleiros a seu lado, disputar o torneio. Dirigem-se, pois, para Atenas, fiéis ao compromisso, trazendo cada qual sua centena de homens, armados a rigor. Muitos não vacilavam em dizer que, desde que o mundo é mundo, jamais, pelos mares e terras de Deus, se vira companhia tão seleta no que concerne aos feitos e à cavalaria. Afinal, todos os que amavam o ideal cavalheiresco e aspiravam conquistar nome glorioso haviam solicitado inclusão naquele prélio.” (CHAUSER, O conto do cavaleiro, p. 34).
Observa-se também que devido ao grande número de personagens envolvidos, os acontecimentos são mais importantes que os personagens em si. No conto, notamos que há um enorme número de deuses citados durante todos as páginas, como Vênus, Diana, Marte, entre outros deuses greco – romanos, ou seja, a concepção dos deuses clássicos ainda é bem impressa na mente do narrador medieval. O breve romance (por isso chamado de novela) também foi dividido em quatro capítulos, e cada uma dessas partes complementa a outra de forma a deixar o ouvinte ou leitor interessado no que viria a seguir. Apresenta também alguns conceitos morais ou códigos de conduta dos cavaleiros ou da sociedade medieval:
“Palamon fechou o sobrecenho: ‘Nada honroso te seria mostrar-te falso e desleal comigo, que sou teu primo e teu irmão de sangue. Lembra-te do solene juramento que nós dois fizemos, comprometendo-nos, mesmo sob tortura, e até que a morte nos separasse, a não prejudicar- nos mutuamente, nem no amor nem em coisa alguma. Prometeste caro irmão, tudo fazer para ajudar-me em tudo, assim como em tudo eu também vou te ajudar.” (CHAUCER, O conto do cavaleiro, p. 26).
Ainda podemos analisar que o romance de cavalaria trata de um amor impossível por uma dama inalcançável, que mesmo tendo em parte um final feliz, também teve o desfecho trágico com a morte do bravo cavaleiro Arcita.
Portanto, é possível perceber que o romance de cavalaria aqui exposto nos Cantos da Cantuária, mais precisamente no Conto do Cavaleiro, que esse tipo de narrativa remete bastante ao período histórico do autor Geoffrey Chaucer, a Idade Média, não se pode precisar que ele mesmo tenha sido o autor intelectual do conto, ou se apenas transcreveu algo popular que era contado em sua época, mas certamente possui todas as características que enaltecem os valores do homem medieval, sobretudo o cavaleiro, e seus feitos heroicos perante o restante dos homens a lutar pelo amor impossível de uma dama. Independentemente de qualquer fato, é imprescindível dizer que a obra de Chaucer foi um grande apoio para que a língua inglesa se estabelecesse de vez, daí a importância dos Cantos da Cantuária enquanto firmadora da identidade literária e linguística na Inglaterra.






África com História



Introdução

O continente africano sempre é visto dentro de uma ótica mercantilista, mas iremos abordar diferentes pontos de vistas dentro das relações dos portugueses com os negros da África, em que é usado como apoio o filme “Nzinga, Rainha de Angola” produzido em 2013 pelo diretor Sérgio Graciano. Iremos dar ênfase à relação da escravidão e do catolicismo entre estes povos no decorrer do século XV até o XVII, onde é ambientado o filme.

Métodos Utilizados

Usamos a escola dos annales como método de pesquisa   , onde tentaremos sair de uma ótica simples mercantilista, para uma visão mais acadêmica,  compreendendo as transformações do espaço geográfico da África Negra com os europeus, sendo assim expandindo o conhecimento sobre estas interações de forma descritiva com uma abordagem qualitativa.

África com História

Nos estudos atuais sobre a historiografia africana temos visões diferentes sobre o mesmo tema, a escravidão, no artigo a seguir abordaremos algumas delas, como a nova leitura destina ao povo lusitano, cansado do estigma de vilões.
O livro de João Pedro Marques, Portugal e a escravatura dos africanos, escrito para a comunidade lusitana, é uma síntese em resposta a cultura historiográfica em que os portugueses reintroduziram e foram coniventes com a escravidão quando essa prática já era condenada por praticamente todo mundo civilizado, enfatizando que tanto Brasil quanto Portugal fizeram a opção pelo Status Quo.
O autor tenta diminuir o papel de Portugal relativa a escravidão no século XIX, justificando que a mesma ainda se encontrava em países como a Mauritânia, Mali e cita o exemplo brasileiro que postergou a escravidão. Concluímos então que na nova leitura feita por Marques o papel de Portugal na escravidão não foi de protagonista único como os ingleses e franceses escreveram.
Na visão Eder da Silveira e Silvio Marcos sobre o tema eles criticam as visões eurocêntricas e mercantilistas da historiografia. Eles discorrem sobre esta desconstrução de uma história ufanista elaborada pelos cronistas no decorrer do tempo, e passam a estudar também relatos de viajantes pela África que dão detalhes das relações culturais religiosas entre os europeus e os povos que lá viviam, ultrapassando á decorrente visão míope de que somente relações comerciais moviam á simbiose entre estas duas culturas. 
O filme “Njinga Rainha de Angola” mostra bem que a relação entre em especial os congoleses e portugueses não era unilateral, no filme é mostrado rainha Nzinga, nascida em 1582, treinada desde sua infância para o combate e o uso de armas, com a morte de seu pai sucumbiu ao irmão na sucessão do trono com inconformismo pois julgava seu por direito, anos depois foi chamada por ele para negociar a paz com os portugueses que já estavam estabelecidos na cidade de São Paulo de Luanda, onde haviam construído igrejas e fortificações. A diplomata negra impressionou o governador geral com sua inteligência e argumentos concretos e objetivos, a princípio obteve sucesso em parte de suas exigências com a condição que ela e o rei, seu irmão, se convertesse ao cristianismo, aceitando o batismo católico.

Rainha Nzinga

A questão religiosa do catolicismo é abordado fortemente no texto “Catolicismo e Poder O caso Congolês” de autoria de Marina de Melo Souza, nela ela aborda a relação religiosa na região do Congo com os portugueses.
O Reino de Congo era mantido pela unidade da nobreza em torno do rei o qualcontrolava o território, que contava com uma estrutura política teoricamente coesa,conforme a passagem abaixo:
[...]. O centro do poder localizava-se na capital, Mbanza Congo,
de onde o rei administrava o país juntamente com um grupo de
nobres que formavam o conselho real, composto provavelmente
por 12 membros, dividido em grupos com diferentes atribuições:
secretários reais, coletores de impostos, oficiais militares, juízes e
empregados pessoais, que influenciavam a administração. A
centralização, que ao mesmo tempo que dava estabilidade ao
sistema, fazia que fosse constantemente abalado pelas intensas e
frequentes disputas pelo poder central. (SOUZA, 2006, p.45-46).

Com tamanha grandeza notamos a cultura política congolesa que apesar da centralização por parte do soberano na capital do Reino de Congo, conhecida por Mbanza Congo, havia autonomia administrativa aos aliados que mantinham relações de longa data com a Mbanza conforme atesta o excerto abaixo:
[...]. Algumas dessas províncias, como de Soyo, Mbata,
Wandu e Nkusu eram administradas por membros de
linhagens enraizadas na região que detinham cargos de
chefia há muitas gerações. Outras províncias eram
administradas por chefes escolhidos pelo rei dentre a nobreza que
o cercava na capital. (SOUZA, 2006, p.45, grifo nosso).

Nem sempre a Cultura Política era feita só de rosas em que a nobreza ficava em órbita do soberano por meio de casamentos entre as famílias e das linhagens. Havia disputas de poder e resistência de poder régias as regiões aldeãs conhecidas por Lubatas nas quais os nkuluntus, chefes locais, recusavam a soberania de Mbabza Congo.
De certa forma essas fissuras por poder político e econômico entre as Mbanzas e Lubatas e, a luta pelo poder entre as elites destes grupos enfraquecia o funcionamento das funções administrativas do poder central do reino. Nessas querelas políticas entra em cena um novo personagem que daria uma nova tonalidade nas relações intrapolíticas e exteriores, na qual se trata do Reino de Portugal que exercerá uma enorme influência na vida pública e privada congolesa e dará novo tempero nas relações entre os postulantes ao trono na nobreza.
Durante o período de intercâmbio cultural entre a potência Ibérica e o poderoso reino da Costa Ocidental Africana, gigantes do Atlântico, houve a assimilação espontânea e ao mesmo tempo pragmática a Fé Católica, a escrita e fala portuguesa e dos nomes das renomadas personalidades do mundo Lusitano, quais nomes de Reis e gente de notória importância, que os nobres locais que cercavam o Mani, denominação designada ao soberano, por parte da elite de Congo. No filme presenciamos esse fato quando a princesa Nzinga quando batizada se torna Ana de Sousa e suas irmãs adotam nomes portugueses. Seu irmão que era soberano, aceita a ideia de batismo, porém sua concepção de superioridade em relação aos súditos o faz recusar o sacramento sob as mãos de um escravo de baixo clero.
O Batismo como citado antes era praticado de maneira pragmática em boa parte dos soberanos e da nobreza como uma maneira imanente de ingressar na nova ordem política feita pelos portugueses para manter e sustentar a estabilidade e os privilégios e da maneira transcendental para manter contato com os espíritos dos mortos e com as dádivas das divindades, por mais que no filme se retrata o caráter imanente por parte da Nzinga. Essas alianças visavam a manutenção da própria manutenção do reino na qual o aparato bélico dos portugueses se fazia necessário para derrotar os grupos locais rivais e insurgentes a autoridade régia de Mbanza. Com estes fatos analisamos a  profunda transformação em que o catolicismo transformou as relações culturais em que especificamente viviam os povos do Congo, indo além de uma visão eurocêntrica da História da Africa.




Conclusão

Com a chegada dos europeus, principalmente Portugal, o continente africano nunca mais foi o mesmo, os portugueses se “ africanizaram”, comercializavam os produtos da África através de todo o oceano Atlântico gerando um intercâmbio de mercadorias, onde eles intermediavam essas relações comerciais, além de trazerem produtos da Europa e Ásia. O contato dos portugueses com os africanos modificou a forma de se relacionar dos povos que lá viviam, seja na cultura, religião e economia, originando uma nova ordem de fatos.

Fontes e Referências:

MARQUES, João Pedro. Portugal e a Escravatura dos Africanos, Lisboa, Imprensa de Ciência Sociais, 2004, 160 páginas.

Njinga,Rainha da Angola. Produção de Coréon Dú, Renato Freitas; Sérgio
Neto; Joana Jorge.Realização de Sérgio Graciano. Angola: Semba Comunicação, NOS Lusomundo Audiovisuais, 2013. 1DIGITAL Video Disc (109min.): DVD,cor. Português. 

SILVEIRA, Eder; CORREA, Silvio M. de Souza. Viajantes brancos na África negra do século XV. In: MACEDO, JR; org. Desvendando a história da África [ online]. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008. Diversidades séries, pp.85-96.

SOUZA, Marina de Mello e. Reis negros no Brasil escravista: história da festa
de coroação derei congo. 1°reimpr. Belo Horizonte. Ed. UFMG. 2006.387p.

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