quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Etnocídio e Etnogênese

John Monteiro era um historiador norte americano nascido em Saint Paul (Minessota), com mestrado (1980) e doutorado (1985) na Universidade de Chicago. Sua especialidade era a história indígena. A tese de doutorado que defendeu daria origem ao seu mais importante livro “Negros da Terra – Índios e Bandeirantes nas Origens de São Paulo.” Lecionou na Universidade da Carolina do Norte, em Harvard, na Unesp e a partir de 1994, na Unicamp, onde dirigia o IFCH( Instituto de Filosofia e Ciências Humanas) de dezembro de 2012 até sua morte em 2013 num acidente de automóvel. Ele estudou os fenômenos da etnogênese e do etnocídio.

John Monteiro

Etnogênese significa a incorporação de elementos de outras etnias, bem como a reinvenção e incorporação de práticas e tecnologias, é o processo no qual “pequenos bandos” transformaram suas aldeias para se unirem a outros grupos. Esse processo é compreendido como uma reconfiguração cultural e identitária dos indivíduos perante elementos endógenos e exógenos a estes.
No transcorrer das práticas coloniais, houve alterações nas estruturas societárias indígenas, os nativos reformularam suas identidades e trajetórias em sintonia com os europeus, passaram a utilizar o cavalo e a prática do comércio, por exemplo.
O etnocídio constitui a destruição dos traços culturais de uma etnia imposta por outro. E ele não precisa ser necessariamente planejado para que ocorra, já que o processo de aculturação vivido por um povo sob domínio de outro enfraquece costumes e crenças “originários” daquela população.
A chegada em massa de portugueses para a exploração, o comércio e a colonização, trouxe várias doenças antes desconhecidas na América, tiveram surtos epidêmicos que mataram milhões de índios. Com o deslocamento das populações indígenas para as aldeias missionárias, ocorreram as primeiras epidemias, tanto é que os índios começaram a associar as doenças aos padres e alguns deles, os caciques e xamãs achavam que eram transmitidas pela água do batismo.
Outro principal agente de contaminação eram os sertanistas, bandeirantes que em suas expedições ao interior levaram muitas doenças aos nativos, além da violência que lhes infligiram.
Temos de conhecer melhor o impacto das epidemias, dos deslocamentos espaciais e das mudanças na forma de guerrear, pois esses fatores contribuíram para as transformações fundamentais nas sociedades indígenas, formando novas configurações étnicas e sociopolíticas, aos aliados, inimigos ou refugiados.
Logo após o contato com os brancos, os índios achavam que eles desejavam que constituíssem uma só nação. Escravos indígenas eram cedidos através das guerras, depois inclusive membros dos próprios grupos; como resultado disso havia fuga para outras regiões.
Com o tempo os portugueses passaram a etnificar ou tribalizar as populações indígenas, isto é, definir grupos étnicos em categorias. Junto a buscas de uma nova forma de identidade e o crescimento de outros setores populacionais, os índios foram estigmatizados, separados de outras categorias étnicas.
Alguns grupos indígenas atingiram proeminência se aliando aos portugueses. Um exemplo é Felipe Camarão, que conseguiu títulos e riquezas, aliado a interesses da Coroa.
O envolvimento em guerras coloniais e tráfico de nativos indígenas virou uma estratégia para grupos que buscavam resguardar sua autonomia, com isso surgiam novas unidades sociopolíticas.

Tráfico de nativos indígenas 
Muitas transformações ocorreram no comportamento de diversas tribos indígenas, ascensão e queda desses grupos também, uns a favor e outros contra a coroa, com isso houve deslocamentos.
Maurício de Heriarte (holandês) acompanhou uma expedição ao Rio Amazonas, onde presenciou os Tupinambás. Eles se deslocaram para o médio Amazonas e restituíram o canibalismo, que foram obrigados a abandonar quando conviveram em missões. Isso demonstrava uma forma de radicalismo étnico que embasava a resistência e autonomia desse povo. Também há outros grupos que abriram mão do canibalismo para demarcar sua relação com os brancos como os “Botucudos” ou os “Cambéda”.
                        Nos séculos XVI e XVII uma sequência de guerras contribuiu para o estabelecimento e congelamento de grupos étnicos. Seguem – se abaixo algumas dessas guerras com participações indígenas:
Guerra dos Tamoios;
Guerras movidas por Mem de Sá na Bahia e Rio de Janeiro;
Conquista da Paraíba;
Conquista do Maranhão e Pará;
Guerra luso – holandesa;
Guerra dos Bárbaros;
Destruição de Palmares.

Muitas migrações refletiam os eventos da segunda metade do século XVI que caracterizaram a conquista nas capitanias da Bahia e Paraíba citadas acima. Os tupinambás, por exemplo, haviam se empenhado nas matas e estabeleceram aldeias.
Destino diferente tiveram os Potiguares que eram os maiores inimigos portugueses até se renderem aos seus algozes e seus aliados “tabajaras” – tribos indígenas inimigas-, acertando um acordo de paz em 1599, aceitando o batismo e uma aliança com os europeus, chegando a embarcar numa caravela com destino a Ilhéus para lutar contra os Aimorés.
As aldeias missionárias proporcionaram um espaço importante para a inserção e reconfiguração das identidades indígenas ao longo do período colonial.
Assim, apesar do convívio nas missões, há muitos casos de indígenas reformulavam ou ainda conviviam com seus costumes, em especial a memória á guerra e o apego aos rituais, ao mesmo tempo em que os padres os catequizavam e eles absorviam conhecimento, eles mantinham suas tradições. Com o tempo, os índios criaram mitos para se posicionar perante os brancos e a história.


Referências Bibliográficas:

- MONTEIRO, John M. "Entre o etnocíáio e a etnogênese: identidades indígenas coloniais". Ia: - Tupis, tapuias e historiadores-, estados de História Indígena e.do Indigenista o. Tese de Livre-docência em Etnologia, Departamento de Antropologia da Unicamp. Campinas, 2901, p. 53-78. 



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